sábado, 12 de fevereiro de 2011
Ter dor de cabeça é comum, mas não é normal Ela pode ser um alerta de algo mais sério no organismo
Muitas pessoas com dor de cabeça, infelizmente, costumam procurar atendimento médico quando sua dor de cabeça se apresenta como crises intensas e, principalmente, muito frequentes, após meses ou anos sofridos com dores de cabeça.Ter dor é normal?
Porque em nossa população existe essa cultura de que ter dor de cabeça é normal? Uma possível explicação é que ter dor de cabeça é comum.
A dor de cabeça, ou cefaleia, é, antes de qualquer coisa, um sintoma. Um sintoma que pode estar presente em variados quadros clínicos, desde um simples resfriado até uma meningite.
Nesses casos, como parte de uma doença, a cefaleia se apresentará com outros sintomas, como febre, tosse, mal-estar, convulsões, o que normalmente preocupa mais as pessoas e as faz procurar um médico mais rápido. Chamamos essas dores de cabeça provocadas por outras doenças de cefaleias secundárias. "Crises de enxaqueca podem durar de algumas horas a vários dias".
Porém, na maioria das vezes, a dor de cabeça se apresenta como o principal sintoma, ou o único, como nos casos das cefaleias chamadas primárias. As principais cefaleias primárias são a dor de cabeça do tipo tensional e a enxaqueca.
Dor de cabeça tensional
A dor de cabeça do tipo tensional é a cefaleia mais frequente na população. Apresenta-se como uma dor leve à moderada, geralmente em pressão ou aperto, em toda a cabeça, com duração de uma hora até vários dias. Desencadeada principalmente por cansaço e estresse emocional.
Enxaqueca
A enxaqueca é uma cefaleia de moderada a forte intensidade, latejante ou pulsátil, frequentemente acompanhada de aversão à luz, barulho, cheiros, tonturas, náuseas e, às vezes, vômitos.
Algumas pessoas apresentam, antes ou no decorrer da crise, sintomas visuais como luzes brilhantes ou embaçamento e perda visual, e/ou também formigamentos no corpo, o que chamamos de aura de enxaqueca. Crises de enxaqueca podem durar de algumas horas a vários dias.
"95% da população apresentará uma dor de cabeça ao longo de sua vida".
Dados da dor de cabeça no Brasil
Segundo a Sociedade Brasileira de Cefaleia, 95% da população apresentará uma dor de cabeça ao longo de sua vida. Cerca de 70% das mulheres e 50% dos homens apresentam pelo menos um episódio de cefaleia ao mês.
A enxaqueca ocorre em até 20% das mulheres. E um total de 13 milhões de brasileiros apresenta dor de cabeça pelo menos 15 dias por mês, o que chamamos de cefaleia crônica diária.
São números alarmantes. E, geralmente, a cefaleia se torna crônica, ou seja, se inicia com dores menos frequentes, consideradas "normais", e com o aumento das crises e o uso excessivo de analgésicos se transforma em uma cefaleia quase diária.
Genética
Outra explicação é que a enxaqueca é uma doença hereditária. É esperado que vários membros de uma mesma família sofram com crises de cefaleia, nas mais variadas idades.
Uma em cada dez crianças tem enxaqueca, principalmente aquelas que têm mãe ou pai com esse tipo de cefaleia. E essa mãe ou pai provavelmente tem também algum dos pais com o mesmo quadro e, possivelmente, irmãos e sobrinhos.
Nessas famílias, a queixa de cefaleia é tão comum, corriqueira, que parece "normal". Os pacientes dizem na consulta "Eu tenho dores de cabeça há muitos anos, mas é normal, afinal toda minha família tem."
Entretanto, doenças como hipertensão arterial e diabetes também são comuns, apresentam causas hereditárias e não são consideradas normais.
Diagnóstico tardio prejudica o tratamento
A ideia de normalidade atribuída à cefaleia é perigosa, atrasa o diagnóstico e um tratamento adequado. E ainda leva a automedicação, grave problema que abordarei nos próximos artigos.
Escute seu corpo. A dor é o meio que ele tem de chamar sua atenção de que algo não vai bem. Sinais de gravidade de uma dor de cabeça, que podem sinalizar para uma possível cefaleia secundária, são:
-A primeira ou pior dor de cabeça da vida;
-Mudanças de características da cefaleia já existente;
-Início após os 50 anos de idade;
-Cefaleia que progride em intensidade e frequência rapidamente, em dias ou semanas;
-Cefaleia que ocorre exclusivamente durante tosse, atividade sexual ou esforço físico;
-Cefaleia acompanhada de febre, confusão mental, rigidez na nuca, convulsões, paralisias, desequilíbrio, ou qualquer sinal neurológico.
No caso das cefaleias primárias, crises frequentes e/ou intensas que interfiram na sua rotina e qualidade de vida, devem sinalizar que é hora de buscar acompanhamento médico. ------------- Dor de cabeça: mitos podem atrasar o tratamento correto
Achar que o principal tratamento é com dieta ou analgésicos é um dos erros -----------
Achar que o principal tratamento é com dieta ou analgésicos são alguns dos erros Quando o assunto é dor de cabeça, todo mundo tem um palpite, conselho ou dica de tratamento. As causas, então, são as mais variadas. De fato, mitos sobre enxaqueca e cefaleia tensional são disseminados e arraigados entre a população em geral. Esses mitos atrasam o diagnóstico e o tratamento correto das cefaleias. São alguns dos mitos mais comuns:
Sinusite é causa de dor de cabeça.
A sinusite crônica ou a rinite alérgica não causam dor de cabeça. Somente a sinusite aguda pode provocar alguma dor facial, geralmente, na região das bochechas onde estão os selos da face em peso e, dificilmente, de forte intensidade. E como a sinusite aguda é uma complicação de um resfriado ou gripe, sintomas como tosse noturna, obstrução nasal com expectoração amarelada ou esverdeada e febre são sintomas freqüentes nesse quadro.
Problemas oftalmológicos como a miopia, hipermetropia e astigmatismo são causas comuns de dor de cabeça. Devo usar óculos como tratamento da cefaleia.
Esse é um dos mais importantes mitos sobre as causas de cefaleias. Problemas oftalmológicos como os citados, raramente, são causas de dor de cabeça. Infelizmente, muitos pacientes com cefaleia tipo tensionais ou enxaqueca acreditam estar "tratando" sua dor de cabeça com óculos de grau ou para "repouso", tendo pouca ou nenhuma melhora.
A enxaqueca e a cefaleia tensional são as causas mais comuns de cefaleia em crianças, e cerca de 10 % delas têm enxaqueca.
Criança não tem dor de cabeça. Faz manha para não ir à escola.
A enxaqueca e a cefaleia tensional são as causas mais comuns de cefaleia em crianças, e cerca de 10 % delas têm enxaqueca. A dor de cabeça é o tipo de dor mais frequente nessa faixa de idade.
Hipertensão arterial é causa de dor de cabeça.
A doença hipertensão arterial não é por si só uma causa de cefaleia. Somente picos hipertensivos podem provocar dor de cabeça. O que ocorre é que ambas as doenças são muito frequentes na população e podem ocorrer na mesma pessoa, o que favorece essa relação de causa/efeito que não é verdadeira. Mesmo não hipertensos podem ter aumento da pressão arterial na crise de enxaqueca, principalmente nas mais intensas, sendo esse um sintoma em resposta à dor, e não o contrário.
Enxaqueca é causada por problemas dentários como má-oclusão e alterações da articulação têmporo-mandibular (ATM).
Realmente, distúrbios da ATM podem provocar dor no local da articulação, como também crepitações e dificuldade em abrir a boca. Não se assemelha em nada a crises de enxaqueca ou cefaleia tipo tensional e essas não devem ser tratadas com procedimentos odontológicos, já que não tem relação nenhuma com problemas dentários.
O principal tratamento da enxaqueca é dieta alimentar.
Muitas pessoas acreditam que a alimentação é a principal causa da enxaqueca. Na verdade, alimentos gordurosos, ou que contenham cafeína ou álcool, podem provocar crises em algumas pessoas. Entretanto, os alimentos não são os provocadores mais comuns. Ao contrário disso, o jejum prolongado é frequentemente deflagrador de crises. Portanto, a dieta alimentar não é a base do tratamento da enxaqueca, podendo melhorar pouco ou nada a frequência de crises para a maioria dos pacientes.Problemas no fígado causam enxaqueca.
O fígado, assim como o estômago, não tem qualquer envolvimento na crise de enxaqueca, nem como causa nem como desencadeante. Como os sintomas de náusea, sensação de empachamento e, muitas vezes, vômitos fazem parte da crise de enxaqueca, acredita-se que esses são causados por alguma doença no fígado ou estômago. A origem das náuseas e vômitos na crise de enxaqueca é no cérebro, onde temos um "centro do vômito" que aciona esse reflexo, tanto na enxaqueca como ao assistirmos alguém vomitando.
O tratamento da enxaqueca é feito somente com analgésicos.
Essa ideia perigosa de que enxaqueca não tem qualquer outro tratamento exceto os analgésicos no momento da crise, gera automedicação e uso excessivo dessas medicações gera mais dor de cabeça, tornando a enxaqueca mais frequente. A base do tratamento é evitar as crises, seja com rotinas e hábitos orientados pelo especialista, caso a caso, ou com as medicações chamadas preventivas, que diminuem a intensidade, duração e principalmente a freqüência das crises de cefaleia.
Medicamentos que previnem dor de cabeça podem viciar ou são muito fortes.
As medicações preventivas para tratamento da cefaleia não viciam. E medicação "forte" ou "fraca" não existe. Medicamentos devem ser indicados sempre por um especialista e utilizados da maneira correta------------ Dor de cabeça e enxaqueca são doenças que exigem tratamentos diferentes
Ficar só no analgésico prolonga as crises, fazer exercícios e cuidar da alimentação é essencial ------------A vontade é arrancar a cabeça fora. Os olhos não agüentam a claridade e a dor insiste em perturbar, prejudicando qualquer tipo de raciocínio e azedando o humor. A enxaqueca realmente compromete a qualidade de vida dos pacientes , afirma a neurologista Sandra Mathias, do Hospital Bandeirantes, em São Paulo. Nos Estados Unidos, onde se estudam vários índices de produtividade, chegou-se à conclusão de que ela é um dos principais fatores na queda de produtividade por falta ao trabalhoNuma entrevista exclusiva ao Minha Vida, a especialista descreve com detalhes todos os sintomas e tratamentos do problema, difere o mal da dor de cabeça corriqueira, fala sobre os melhores tratamentos, a prevenção e sobre tudo aquilo que tem potencial para desencadear uma temida crise. No final, acompanhe ainda uma descrição dos principais tipos de dor de cabeça e identifique qual deles tira você do sério.
Existem alimentos que causam dor de cabeça?
Não. As pesquisas, no entanto, apontam que alguns deles podem desencadear crises em pacientes com enxaqueca. É o caso dos chocolates, alguns queijos curados, embutidos de carne (salsichas, lingüiças) e glutamato de sódio (o sal utilizado na culinária oriental). Álcool e café também podem causar o desconforto.
O que estes alimentos têm de especial?
Eles contêm elementos que interagem com a bioquímica cerebral, alterando a ação de determinadas enzimas e acelerando a metabolização de substâncias chamadas neurotransmissores (como a serotonina). Mas é importante lembrar que casos de crises desencadeadas por alimentos são pouco comuns e afetam só quem é sensível.
Enxaqueca é hereditária? Ela é uma dor de cabeça mais forte?
A história familiar favorece o surgimento do problema. Mas só ela não justifica um caso de enxaqueca. Enxaqueca é um dos tipos de dor de cabeça, e não uma variação na intensidade do mal.
Há cura para enxaqueca?
Não. A enxaqueca é uma doença crônica, que exige o afastamento dos fatores desencadeantes, além do consumo de medicamentos. Mas o tratamento é bastante eficaz na prevenção das crises. Além de medicações, são indicados exercícios físicos e atenção à estrutura emocional.
Qual o efeito dos exercícios no controle da doença?
Exercícios físicos estimulam a circulação e a oxigenação sanguínea, propiciando um estado aeróbico no organismo. Isso confirma a teoria da enxaqueca de que as crises possam ser causadas por uma redução de oxigênio cerebral. Além disso, atividade física libera endorfinas, substâncias reconhecidamente benéficas e que têm ação no alívio da dor.
E o que a estrutura emocional tem a ver?
A estrutura emocional é a base para o tipo de dor de cabeça mais comum: a cefaléia tensional, geralmente descrita como se houvesse um peso sobre a cabeça. Geralmente, ela aparece mais no final do dia. O estresse emocional e físico é, reconhecidamente, um dos causadores de inúmeras doenças e sintomas, além das cefaléias.
Existem vários tipos de dor de cabeça?
Sim. Existem as cefaléias denominadas primárias (como a enxaqueca e a cefaléia tensional) e as cefaléias secundárias, que podem ser desencadeadas por diversas causas, como nevralgias, causas odontológicas, problemas de coluna cervical, glaucoma e infecção de ouvido.
Enxaqueca é sintoma de outros problemas de saúde?
Não. Enxaqueca é um tipo de problema de saúde, que deve ser diagnosticada e tratada corretamente.
TPM causa enxaqueca?
TPM não causa enxaqueca. Ela, simplesmente, pode desencadear uma crise em mulheres que já sofrem com o problema.
Enxaqueca é uma doença incapacitante?
A intensidade da dor varia de pessoa para pessoa. Mas, muitas vezes, a dor de cabeça associada a sintomas como náuseas, vômitos e a dificuldade para tolerar a luz tornam o paciente incapacitado para suas atividades habituais. Nos Estados Unidos, onde se estudam vários índices de produtividade, chegou-se à conclusão de que a crise de enxaqueca é um dos principais fatores na queda de produtividade por falta ao trabalho.
Dor de cabeça é uma doença crônica?
A dor de cabeça é uma das queixas mais comuns em relação às dores em outras regiões do corpo. Estima-se que até 80% das pessoas apresentam pelo menos um episódio de cefaléia por ano. Já a enxaqueca, especificamente, é uma doença que pode aparecer em crises repetidas ao longo de anos se não for tratada adequadamente.
Tipos de dor de cabeça:
1. Cefaléia tensional: dor de cabeça mais comum. Caracteriza-se pela dor tipo peso, geralmente acometendo a cabeça toda ou mais localizada na parte de trás da cabeça, irradiando-se para a nuca. Geralmente há contração muscular na região dos ombros. Fadiga, irritabilidade, alterações de sono e de apetite são outros sintomas. Muitas vezes o paciente relata estar passando por alguma situação de conflito ou estresse.
2. Enxaqueca: predominante no sexo feminino. Normalmente, a dor é latejante e sentida de um lado só da cabeça. Náuseas ou vômitos são comuns. É comum ainda a intolerância à luz e a outros estímulos sensoriais, como sons e odores. Alguns sinais, conhecidos como "aura", tendem a antecipar a dor. São, principalmente, de origem visual e incluem escurecimento de parte ou de todo o campo visual ou sensações visuais de luzes ou cintilações.
3. Cefaléia por hipertensão intracraniana: em casos de tumores cerebrais ou hidrocefalia há aumento da pressão no interior do cérebro, que se encontra fechado na caixa craniana. A dor é contínua, e não em crises. Geralmente associa-se a náuseas e vômitos. Pode haver alterações de consciência. No caso de tumores, há sinais e sintomas neurológicos focais relacionados às áreas afetadas no cérebro.
4. Cefaléia por rotura de aneurisma cerebral: é descrita pelo paciente como uma dor muito, muito intensa. A comparação é com uma paulada na cabeça, de instalação súbita e que também pode se acompanhar de náuseas e vômitos. Dependendo da gravidade do sangramento pode ocorrer deterioração neurológica, com piora grave até para coma.
5. Cefaléia pós-raquianestesia: acontece após procedimento anestésico - a raquianestesia. Caracteriza-se por dor intensa na cabeça inteira, podendo se associar a náuseas e vômitos. Caracteristicamente, a dor some quando o paciente permanece deitado com travesseiro baixo e se inicia assim que se levanta a cabeça.
6. Cefaléia por meningite: tem as mesmas características da cefaléia por hipertensão intracraniana, e soma-se a presença de febre e mal-estar generalizado.
Cefaléias secundárias: têm uma multiplicidade de fatores causais:
1. Neuralgia do nervo trigêmeo: caracteriza-se por acometer a área da face sob a inervação do nervo trigêmeo. A dor é descrita como lancinante e persistente, com alguns períodos de alívio. Uma característica importante é a sensibilidade da chamada zona de gatilho: um toque leve em alguns pontos do rosto desencadeia a dor.
2. Dor de cabeça por sinusite: caracteriza-se por ser contínua, tipo peso, sem sintomas associados e que pode piorar quando se abaixa a cabeça.
3. Dor de cabeça por disfunção de ATM (articulação têmporo-mandibular): geralmente, portadores desse tipo de dor têm alterações da mastigação. A dor ocorre nas regiões temporais e pode ser do tipo peso. Apalpando a ATM notam-se desvios ou alterações na dinâmica do fechamento e abertura da boca. Muitas vezes, o uso noturno de plaquinhas acrílicas, prescritas pelo dentista, resolve o problema. Outras vezes, em casos mais graves, aparelhos ortodônticos ou mesmo cirurgias reparadoras são necessários. ------------Dor de cabeça: informe-se para não errar ------------Feliz de quem nunca sentiu a cabeça doer. Feliz, não... abençoado, sobretudo no mundo estressante de hoje. A cabeça dói para 97% das pessoas. Pode não doer sempre, pode doer pouco, mas, em algum momento da vida, dói. Para a maioria, é como se uma faixa apertasse o crânio, de uma têmpora a outra. Cerca de 4,5 bilhões de pessoas em todo o mundo, 121 milhões no Brasil, conhecem a aflição. Descrito pela primeira vez em 3000 a.C., o mal-estar foi batizado de cefaléia do tipo tensional episódica - nome pomposo para a dor de cabeça mais comum. Era de esperar que a humanidade já soubesse como enfrentar tormento tão vulgar e antigo. Mas não sabe. Pelo menos no Brasil, conforme revela a maior e mais minuciosa radiografia da dor de cabeça já feita no país.
Patrocinados pelo laboratório Bristol-Myers Squibb, 2.042 especialistas do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo e do Hospital Beneficência Portuguesa entrevistaram 5.490 pacientes, de 19 a 91 anos, selecionados em consultórios e ambulatórios de todo o país. A Dor de Cabeça no Brasil revelou um cenário sombrio. Na terra da automedicação, os pacientes engolem uma quantidade exagerada de remédios (nem sempre os mais indicados) e demoram para procurar ajuda especializada. Por insegurança e desinformação, grande parte dos médicos adota condutas equivocadas (ou erra no diagnóstico ou no tratamento, freqüentemente em ambos). Os resultados podem ser desastrosos.
Desde que os primeiros hominídeos desceram das árvores, 4,5 milhões de anos atrás, nunca como agora homens, mulheres e crianças conviveram tão de perto e tão intensamente com a ansiedade, o stress e a depressão. Os males da vida moderna não são a causa, mas disparam o gatilho para a dor de cabeça. "O ser humano não foi feito para agüentar o ritmo imposto pelos tempos atuais", diz Edgard Raffaelli Jr., um dos mais conceituados neurologistas brasileiros. Dor é útil. Sem dor não haveria vida. Funciona como sinal de alerta do organismo: "Ops... Calma aí. Não exageremos". Do contrário, a dor perde a utilidade. Tolerável, fácil de ser debelada e pouco duradoura, a dor de cabeça comum pode ser uma armadilha das mais traiçoeiras. A grande ameaça não está na cefaléia em si, mas no jeito como é tratada.
O Brasil é o segundo maior mercado consumidor de analgésicos do mundo, com cerca de 500 milhões de dólares movimentados anualmente. Só perde para a China, com 1,3 bilhão de habitantes - uma população oito vezes maior que a nossa. Tomamos muito remédio porque demoramos em nos medicar. Simples, assim. "Dor de cabeça deve ser combatida como incêndio: quanto mais cedo, melhor", compara o neurologista Alberto Alain Gabbai, professor da Universidade Federal de São Paulo. "Mas receitamos um comprimido e os pacientes tomam meio, achando que é uma vantagem." Um pouquinho agora, outro tantinho depois... até o absurdo consumo de 3,5 doses de analgésico por crise. Um estudo da Sociedade Brasileira de Cefaléia, SBC, de 1998 mostra: mais da metade dos brasileiros só toma remédio depois de uma hora do primeiro sintoma de dor. Até lá, a cefaléia vai se instalando, ficando cada vez mais forte e difícil de ser superada. Quanto maior a crise, maior a quantidade de analgésicos e maiores os riscos de dependência.
Processo de desintoxicação - Mais de três analgésicos, duas vezes por semana, durante três meses, é o suficiente para que aquela dorzinha se transforme em martírio. Não há quem se vicie em cocaína? Pois há quem se vicie em analgésicos. Isso mesmo, analgésicos. "Precisar de doses cada vez maiores do medicamento para o alívio da cefaléia é um sinal claro do vício", diz o neurologista Carlos Alberto Bordini, presidente da SBC. Quando alguém toma um analgésico, desobriga o cérebro de produzir endorfina, a versão da morfina fabricada pelo próprio organismo, uma espécie de doping natural. O problema é que o organismo pára de sintetizar sua endorfina se a pessoa consome analgésicos sistematicamente. Afinal, para que produzir se o remédio vem de fora? Mantido o ritmo de um comprimido agora, outro logo em seguida, com o tempo o organismo cria resistência aos medicamentos. Desprotegido, o doente fica à mercê da dor crônica e diária. Um desespero, com 2,5 milhões de vítimas no Brasil. "A única forma de curar o vício é suspender completa e abruptamente o consumo de analgésicos", afirma o neurologista Abouch Valenty Krymchantowski, do Centro de Avaliação e Tratamento da Dor de Cabeça, no Rio de Janeiro. No primeiro mês do processo de desintoxicação, além da cefaléia constante, alguns pacientes vivem os sintomas clássicos das crises de abstinência. São acometidos de tremores, suores frios, agitação, náuseas, vômitos e insônia. "Muitos precisam ser internados para suportar essa fase", diz o doutor Krymchantowski.
Longo demais - De cada dez pacientes, revela A Dor de Cabeça no Brasil, sete sofrem até cinco crises mensais. As pessoas levam em média cinco anos antes de procurar ajuda médica para a dor de cabeça constante. Até conseguem levar o trabalho adiante, mas trabalham mal, irritadas, de péssimo humor. E dá-lhe remédio. Outro problema: cerca de 40% das pessoas tratam a dor de cabeça com medicamentos errados. Recorrem sobretudo às drogas contra enxaqueca. "Não funcionam para a cefaléia do tipo tensional", decreta o doutor Getúlio Daré Rabello, chefe do ambulatório de cefaléia do Hospital das Clínicas de São Paulo. Além de não encontrar alívio, o paciente fica sujeito a efeitos colaterais mais sérios. E o que dizer do 1,31% de pessoas que tentam debelar a dor com derivados de opiáceos? Utilizados como analgésicos em casos específicos, como em tratamentos pós-operatórios e de pacientes vítimas de câncer, esses remédios podem causar dependência se consumidos em doses superiores a um comprimido por semana. "Muitas pessoas acham que dor de cabeça é tudo igual e acabam tomando medicamentos inadequados", diz o médico Marco Aurélio Lana Peixoto, presidente da Sociedade Brasileira de Neuroftalmologia.
Em 1988, a Sociedade Internacional de Cefaléia catalogou mais de 150 tipos da doença. Até hoje, no entanto, persiste o antigo mito de que dor de cabeça é enxaqueca. O erro na medicação é apenas uma das conseqüências da confusão. De forte componente genético - 75% dos pacientes têm parentes sofredores do mesmo mal - , a enxaqueca não faz nem metade do número de vítimas da dor de cabeça mais comum. Desperta, contudo, mais atenção. "O impacto da enxaqueca é muito maior", diz Daré Rabello. O suplício que ela impõe a suas vítimas é aterrador - náuseas, vômito, formigamento das mãos, vista embaralhada, raciocínio confuso, aversão à luz, ao barulho e a odores fortes. Apesar de mais comum, a cefaléia do tipo tensional não é a mais fácil de diagnosticar. Não tem um quadro clínico tão nítido quanto à enxaqueca. Ou a cefaléia de pontadas e sobressaltos, a dor súbita e forte, com duração de segundos e que obriga o paciente a movimentar a cabeça no sentido contrário ao da pontada. Ou orgásmica, da qual os principais alvos são os homens e cujas crises aparecem durante o ato sexual, principalmente quando praticado de pé. Conforme o novo estudo, os médicos tendem a pedir duas vezes mais exames para o diagnóstico da dor de cabeça do tipo tensional do que para a enxaqueca. Dos quatro exames mais solicitados, três - raios-X do crânio, da coluna cervical e eletroencefalograma - têm pouca serventia no diagnóstico da dor de cabeça comum. São de grande utilidade para identificar doenças em que a dor de cabeça é sintoma - hipertensão e tumores cerebrais, entre as mais graves. "É perfeitamente possível diagnosticar a cefaléia do tipo tensional, tanto episódica como crônica, sem esses exames", afirma Raffaelli Jr.
"Borboletas" - Na maioria das vezes, um médico bem preparado é capaz de determinar a causa da cefaléia sem toda essa parafernália. Basta que interrogue o paciente minuciosamente e que saiba o que perguntar. Do contrário, nada poderá fazer. E há uma legião de aflitos em peregrinação por ajuda. Oito em cada dez brasileiros visitam, em média, três médicos até encontrar o alívio desejado. São as chamadas "borboletas de consultório". Algumas dessas "borboletas" chegam a procurar dez, até quinze especialistas das mais diversas áreas - do clínico geral ao massagista. Quando o diagnóstico é assinado por um não-especialista em dor de cabeça, a avaliação tende a estar errada em 93% dos casos. Do ponto de vista orgânico, a cefaléia do tipo tensional é caracterizada por um desequilíbrio na química do cérebro. As flutuações nos níveis das substâncias responsáveis pela sensação de bem-estar e pela supressão da dor aumentam a suscetibilidade aos episódios dolorosos. No final dos anos 80, os antidepressivos começaram a ser usados no tratamento profilático da dor de cabeça. As drogas contra depressão, sobretudo as mais antigas, os chamados tricíclicos, ajustam a bioquímica cerebral. São, como se vê, descobertas recentes. Até a década de 60, acreditava-se que a dor de cabeça seria causada pela tensão muscular - daí o nome tensional. Errado. A contração da musculatura é decorrente da dor. E não a causa. Se a dor persiste, os músculos contraídos agravam a sensação dolorosa.
Com os avanços nos conhecimentos científicos sobre a dor de cabeça, as armas disponíveis hoje para combatê-la são muitas e eficazes. Além dos analgésicos e dos antidepressivos, há o trabalho dos fisioterapeutas e psicólogos. Os primeiros usam técnicas manuais de relaxamento da musculatura da região cervical. Os segundos ensinam o paciente à não se deixar abater tanto pelo stress e pela ansiedade. Qualquer atividade que deixe a pessoa mais relaxada é de grande ajuda contra a dor de cabeça do tipo tensional. "Ioga e ginástica costumam surtir efeito", diz o doutor Bordini, da Sociedade Brasileira de Cefaléia. Os exercícios físicos, principalmente os aeróbicos, como natação e caminhada, estimulam a liberação da endorfina, o analgésico natural. Mas é preciso praticá-los com prazer. "Do contrário, só geram mais tensão", adverte o neurologista.
As sociedades antigas viam a dor como uma intrusão de fluidos mágicos. Não é mais preciso rogar às divindades pelo alívio da dor de cabeça. Ele pode ser encontrado de forma bem mais simples. Basta não abusar dos medicamentos e tentar se proteger contra o stress da vida moderna.
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