A pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, foi na terça-feira à noite a um encontro com Michel Temer (PMDB), presidente da Câmara, declarar a sua rendição. Mas não bastou. Saiu do encontro sem o “sim” definitivo. A mercadoria já subiu de preço. E isso começa a revelar o chamado “custo PMDB”, que também pode ser chamado de “Risco Dilma”. Explico-me.
Depois de Lula ter sido malsucedido na tentativa de sabotar a candidatura de Temer a vice na chapa encabeçada por Dilma, restou aos petistas fazer o “convite”. Os peemedebistas exigiram o ritual de humilhação. Afinal, era preciso que uma coisa ficasse muito clara: entre PT e PMDB, quem não tem opção é o partido de Lula. O outro sempre pode bandear-se para o lado do tucano José Serra, como farão alguns diretórios regionais, levando consigo seu latifúndio televisivo. O PT lideraria, nessa hipótese, uma coligação de nanicos ou quase-nanicos. E ficaria ainda mais dependente do “fator Lula”.
Seria uma tragédia. Serra certamente não dispensaria o PMDB, mas sua postulação não depende do apoio do gigante. Sem o PMDB, a candidatura de Dilma ficaria extremamente fragilizada, apesar do amparo de Lula.
Os peemedebistas sabem que seu apoio não tem preço — ou melhor: tem um preço enorme. Nesse particular sentido, a boa largada do tucano e a impressionante soma de trapalhadas da petista fazem o PMDB valorizar ainda mais a mercadoria. Na sua habitual arrogância, Lula e os petistas acreditaram poder engabelar Temer, Sarney, Renan e moralistas do gênero e impor a solução Henrique Meirelles — uma espécie, assim, de PMDB sem peemedebismo. Deu errado, como se sabe.
Pois bem! Dilma fez o convite, mas o PMDB, olhem que coisa, fez-se de rogado — ou “de estreito”, como diria o Marquês de Sade… Não declarou apoio, não! Temer está muito honrado, claro, claro, mas decisão mesmo, para valer, só em junho. Esse negócio de partir já para o rala-e-rola é coisa para PC do B, PSB, PDT, os que não têm como impor a sua vontade. Os peemedebistas pretendem dar a palavra final só no dia 12 do mês que vem, véspera da convenção do PT.
Há chances reduzidíssimas, próximas de zero, de o PMDB “nacional” não fechar com Dilma, embora os diretórios regionais tenham liberdade para fazer o que acharem melhor. Mas, enquanto a possibilidade existe, os peemedebistas fazem como os deuses antigos, segundo Fernando Pessoa: “vendem quando dão”, e os petistas tentarão “comprar a glória com desgraça”. Os minutos do partido na TV custarão a imposição de soluções regionais a que o PT aqui e ali vai resistir inutilmente. É o caso, por exemplo, de Minas Gerais. O PMDB não aceita qualquer solução que não seja Helio Costa na cabeça de chapa. A decisão, que todos sabem qual é, sai daqui a um mês.
Dilma, está posto, não é Lula. Os peemedebistas estão demonstrando que já a fizeram refém do partido — e isso será o normal caso ela se eleja presidente da República. Vejam que fato curioso, notável mesmo! Ao tentar o seu terceiro mandato por procuração, escolhendo para protagonista da peça a camareira tarefeira — e Dilma não tem a desenvoltura de Anne Baxter em All About Eve —, Lula jogou a sorte da candidatura de seu partido no colo do PMDB e de seus notáveis patriotas. Mais do que isso: caso Dilma seja eleita, jogou a sorte do país.
Sim, todos têm aliados incômodos, até Marina Silva. A questão não é essa. O caso de Dilma é um pouco diferente. Se vocês não gostam da fachada petista que tem a sua candidatura, saibam que isso é só a parte externa mesmo do Cavalo de Tróia. O ventre do bicho está lotado de peemedebistas prontos para fazer com o país o que os gregos, afinal, fizeram com Tróia..
quarta-feira, 9 de junho de 2010
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