Charlie é um gato da raça siamês com quase seus 11 anos completos.Sua proprietária o adquiriu em um abrigo,ele já deveria ter um pouco mais de 2 anos de idade,no dia em que ela lembra bem,queria presentear sua filha,de 16 anos,que sofria de um distúrbio psicossomático bem conhecido.Quando chegou na feira de adoção,pensou:"Nossa!Que responsabilidade,dentre tantos gatinhos,tenho que escolher um!"
Estava enganada,Charlie logo a escolheu,com miados lamuriosos e seus olhos azuis brilhantes,além da tentativa de tocar as mãos de sua candidata à tutora,com suas frenéticas patas.Prontamente conseguiu um lar.
A partir daí foi um início de uma amizade profunda,embora fosse um gato adulto,era muito carinhoso e já era castrado,vacinado,também já sabia usar a liteira..."Só havia vantagens!"-pensou ela.Levou-o ao veterinário,vermifugou novamente,aplicou medicação preventiva para pulgas e o resto foi só alegria.
Charlie viveu muito bem,com higidez,sempre com ótimas rações,atenção e ambiente ideal.Cumpriu seu papel de terapeuta,ajudou bastante na recuperação da jovem.Porém,há dois anos vem sofrendo de problemas na boca,inflamações periodontais e gengivais cada vez mais graves,ficando difícil até para comer.Já fora tratado por diversos medicamentos,que só amenizaram a situação.
Recentemente,orgulhosamente entrei na história de vida dele,me procuraram porque além dos disturbios orais,a proprietária está aflita com o aparecimento de vários abscessos pelo corpo,que insistem em "pipocar" em locais diversos pela pele.Inclusive um emagrecimento progressivo bem notável.
Charlie é portador de FIV,a conhecida AIDS felina,que fora adquirida,provavelmente,antes da adoção,talvez até mesmo antes da castração.E o pior,"seus familiares" só descobriram isso numa fase tardia da doença.
A proprietária não aceita,se revolta:"Por que não me informaram sobre essa doença?Por que não solicitaram esse teste mais cedo?Eu não poderia tê-lo preparado melhor,sabendo que ele era positivo?"A resposta é sim.
Casos como este tornarão-se cada vez mais comuns.Nós veterinários temos consciência de que as retroviroses existem e além disso,os nossos clientes estão a cada dia mais informados,assim,com estes ingredientes,a nossa omissão pode causar problemas graves.
A recomendação é testar os gatos para FIV e FeLV em várias ocasiões,mas sempre avaliando-se bem cada caso:
Em filhotes,o teste deve ser feito em gatinhos com média de 4 meses,recomendando-se repetir após 60 dias,devido às particularidades imunológicas dessa idade.Principalmente diante de um resultado positivo para FIV,onde pode haver uma interferência pelos anticorpos maternos.Também antes da vacinação para FeLV,já que a sorologia não diferencia animais positivos e vacinados.
Todo animal recém-adquirido,que será introduzido em um ambiente,deverá ser testado,e dependendo de seu histórico,contatos anteriores,se não for castrado...têm que repetir o exame com 60 dias.
Animais doentes,não importando o quadro apresentado,devemos conhecer o estado FIV/FeLV destes.Isto pode mudar a nossa conduta em relação ao tratamento e prognóstico,o cliente tem o direito de ser informado.
Em gatis,fêmeas reprodutoras,filhotes,machos,todos devem ser testados periodicamente.
Gatos domiciliados que porventura fujam,podem entrar em contato com grupos de risco,devendo assim serem testados duas vezes,com o intervalo de sessenta dias.
Entretanto,caros amiguxos.,temos um problema,o preço destes exames,ainda inacessíveis para muitos.Porém ,acredito que o nosso dever é informar,conscientizar e pedir os testes em todas essas situações.Muitos clientes não os farão,assumindo os riscos,mas ficaremos de consciência tranquila.Agora outros aceitarão sim,e se um gato for positivo para essas viroses,não quer dizer que estará doente,que morrerá daqui a um ano,ou muito menos que precisa ser eutanasiado.Ele poderá viver muito bem,com devidos cuidados.Onde também entramos nesta parte,acompanhando e instruindo,derrubando preconceitos em relação aos animais positivos.Entretanto,deixaremos para o próximo capítulo.Abraço!
P.S: Charlie não morreu!
quinta-feira, 27 de maio de 2010
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