Não é raro atendermos na clínica um cão “latidor”. Já na sala de consulta ele não cala a boca, tornando difícil, inclusive, o diálogo com o cliente. Algumas raças têm inerente em seu DNA os latidos excessivos, porque há várias gerações são selecionadas para dar o aviso de que encontraram uma presa ou de que alguém se aproxima. Mesmo assim, este é um dos problemas de comportamento mais comuns, muito presente na rotina da clínica. Trata-se de um assunto tão sério, que até a Cordectomia é considerada em alguns casos, por clientes eprofissionais desinformados.
Os latidos são uma forma de comunicação entre os cães. É um meio de interagirem entre eles e com o meio externo. O principal motivo pelo qual os cães latem é para defender seu território e para demarcar suas fronteiras. Os viralatas sem dono raramente o fazem, já que não têm um “endereço fixo” para defender e estão sempre em movimento. Uma vez adotados, guardam seu lar como qualquer outro cão: latindo.
O dono do cão sempre reconhece os diferentes latidos para diferentes situações. O som emitido para pedir comida ou entrar em casa é um; enquanto o aviso de intruso é outro. Apesar dos lobos selvagens latirem, se confinados, para defenderem seu território, este tipo de “diálogo” é mais comum em canídeos domesticados.
O próprio homem selecionou essa característica conforme sua conveniência, sem saber que os cães tendem a latir mais para outros cães, do que para qualquer outra espécie ou situação.
Os latidos excessivos são um problema sério nas clínicas veterinárias, pet shops e hoteizinhos. Se os canis não forem bem isolados, terão problemas com os vizinhos, já que os sons podem gerar até 90 decibéis de altura, o que não é considerado seguro. Na hora de planejar onde irá colocar suas gaiolas, leve isso em consideração e previna-se de problemas futuros.
A solução para situações difíceis
Quando os latidos se tornam um problema para o dono, o médico veterinário deve intervir. Os cães que são deixados no quintal e latem para qualquer movimento na rua podem ser facilmente confinados dentro de casa ou no canil durante os horários de maior movimento. Dessa forma, não terão acesso a portões e cercas e, com o tempo, dessensibilizarão do vai-e-vem da calçada. Os proprietários não devem permitir correrias no quintal e balbúrdia, sendo instruídos a chamarem o
cão imediatamente, recompensálo e impedi-lo de retornar ao que estava fazendo. Usando o comando “vem” para o cão, bem animado, e quando o cão se aproximar, recompensá-lo com um biscoito ou muito carinho.
Uma das situações mais frustrantes para o cliente, é quando o cão late ao ser deixado sozinho. Nesse caso ele pode estar latindo por ansiedade de separação, ou seja, não suporta a ausência do dono. Outra causa é o medo de sons que não identifica nos vizinhos ou redondezas. No caso da ansiedade, o cão, além de latir destrói a porta de saída ou objetos pessoais de seu proprietário, além de apresentar vômitos e diarréia em casos mais graves.
Não é difícil de ser diagnosticada, porque é realmente um ataque de pânico e com proporções destrutivas correspondentes. O correto é encaminhar o caso a um especialista em comportamento.Se o cão não dá sossego aos vizinhos quando todo mundo sai de casa, provavelmente ele algum dia ouviu ou viu algo que interpretou como um intruso.
Só que não esquece e então nunca se sente seguro quando deixado sozinho. É mais comum em cães de porte médio ou pequeno e a solução é muito simples. Porém, nem sempre temos a cooperação do proprietário: colocar o cão dentro de casa. Pode ser numa lavanderia ou cozinha e não num quartinho nos fundos. Dessa forma o cão se sente protegido e fica quieto. Funciona muito bem e deve ser feito por alguns meses até que o cão esteja dessensibilizado.
Para cães impossíveis existe a alternativa de usarmos coleiras antilatidos. As que dão choque ou apitam não são recomendadas. A primeira, é totalmente desumana; e a segunda funciona dois dias e logo o cão se acostuma ao som do apito e late mesmo assim. E o pior é que daí são dois barulhos desagradáveis juntos.
O indicado é a coleira de spray de citronella, que espirra rente ao focinho se o cão late. Além de muito segura, realmente faz os piores latidores ficarem quietinhos. Ela é importada e não custa barato, mas pode ser um último recurso. Em qualquer uma das situações, nunca devemos deixar que os cães se tornem um incômodo ao proprietário. Cabe a nós, médicos veterinários, ensinarmos aos clientes a educar seus cães e com isso promovermos o bem-estar entre clientes e pacientes.
Luelyn Jockymann, médica
veterinária especialista em
comportamento de cães e gatos.
luelyn@terra.com.br
terça-feira, 13 de abril de 2010
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