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terça-feira, 13 de abril de 2010

OS CINCO CAMINHOS E O MEDO SAUDÁVEL.

OS CINCO CAMINHOS E O MEDO SAUDÁVEL.JURACY CANÇADO.Na cosmologia daoísta, os períodos que mediam os ciclos têm por emblema a Água, o aspecto Yin que confere ao Dao o nome de "O Grande". Fonte e sumidouro, a Água guarda em si o mistério da existência: suas profundezas tangem o vazio fértil e hospedam a insondável matriz feminina, a "mãe obscura" de onde flui e para onde reflui a vida, entremeando os mundos do ser e do não ser.

Da margem visível desse horizonte dos eventos se estendem os Cinco Setores do Mundo - a rosa quadrangular do domínio das formas - onde as evoluções do tempo compõem as Cinco Fases Evolutivas. Por essa via segmentada Madeira, Fogo, Terra, Metal e Água demarcam os ciclos ativos do Dao, ordenando e agrupando, em sistemas de correspondências, o fluxo mutante dos fenômenos.
Mas não são as coisas que mudam: é o espaço-tempo que dança e imprime a elas o seu ritmo.

Conhecida como "Teoria dos Cinco Elementos", essa descrição da metamorfose ordenada que integre os dois mundos - o nada "implicado" e a esfera "explicada" das dez mil coisas - é a pedra angular das representações cosmológicas que norteiam e conferem significado às práticas e facilitações terapêuticas concebidas na China antiga.

Como toda palavra chinesa, o termo que serve de rubrica à essa idéia - Wu Xing - se reveste de uma aura de imprecisão que o habilita a descrever, não substâncias ou mesmo forças, mas acontecimentos. Wu designa um "vazio" e igualmente "cinco", número que simboliza a forma de todo e qualquer evento verificável - seus quatro quadrantes acrescidos da posição central que os integra. Xing tem o sentido primário de "caminho", mas um caminho que associa, a um tempo, as noções de direção e virtude. A palavra evoca a imagem de uma via a seguir e da conduta que essa direção prescreve.

Mas quer chamemos essa idéia diretriz de "Cinco Movimentos" ou "Cinco Fases", ou ainda optemos por acatar a polêmica tradução oficial "Cinco Elementos" - meros "nomes de cortesia", no jargão da alquimia daoísta - o essencial é não esquecermos que se trata de um sistema básico de correspondências que agrupa as realidades - naturais e humanas - sob a influência das evoluções fundamentais dos tempos e espaços. E que, à maneira dos demais emblemas ativos chineses, tal concepção implica um notável poder de eficácia: sua função é menos informar do que descrever situações e nortear as ações.

Assim, da mesma forma que a Terra espelha o Céu, o homem e o mundo se correspondem. Na dimensão humana essas categorias dinâmicas se fazem presentes pelo mandato dos Zang Fu, os "oficiais do corpomente" e seus espectros que associam órgãos físicos, funções fisiológicas, emoções, disposições mentais e sociais, e qualidades espirituais. Neste modelo "de campo", um par de oficiais Ying-Yang encarna e processa, a partir do corpo, a temática correspondente a cada uma das Cinco Fases.

O Útero do Dao

Origem e destino da grande dança cíclica, a Água, jazigo e útero do Dao, é ainda o veículo condutor das metamorfoses radicais - as mortes e renascimentos contínuos que fazem perene o fluxo da existência. Assentados nos órgãos corpóreos que lhes servem de fundamento material e lhes empresta o nome, Rins e Bexiga, os oficiais da Água, respondem pelo armazenamento e utilização dos potenciais de vida e pelos investimentos apropriados desses recursos em conformidade com as exigências de cada momento singular.

Mas são os Rins, com sua polaridade Yin, que matriciam o tema: com a forma de semente seu órgão físico lembra um feto, um "pé de gente" onde germina a planta do ser. É a sede do Jing, a essência virtual e origem não-visível das energias que conduzem a vida. Sua contraparte Yang, a Bexiga, corresponde à função da bolsa aminiótica: serve de reservatório e provê suporte ativo para o germinar do broto, servindo de veículo para sua arborização no externo. Lonny Jarret usa a imagem de um poço para ilustrar a interação funcional dos oficiais da Água. Os recursos hídricos são similares ao Jing, enquanto os Rins se comparam ao poço que faz brotar das profundezas essa fonte de vida e a armazena. A função da Bexiga faz lembrar o mecanismo roldana-corda-balde que coleta esses recursos e os traz ao mundo para serem utilizados.
Na Medicina Chinesa, o Te ou Virtude dessa equipe - sua "autenticidade em ação" - tem o nome de Sabedoria. Não se trata, porém, de uma "erudição", de um saber teórico-conceitual, mas de uma sabedoria aplicada que envolve capacidade e habilidade de gerir a própria vida, respondendo a cada momento novo com a espontaneidade impecável que se apóia na experiência.

A emoção associada à Água é o medo, a única resposta afetiva autêntica ante o desconhecido. Se o medo excessivo imobiliza os Rins e congela sua potencialidade, a deficiência de medo - um padrão igualmente patológico - induz ao esgotamento prematuro das reservas em decorrência de atitudes inconseqüentes e desmesuradas.

Zhi, o espírito da Água, é o poder maior que habita os Rins com o nome de Vontade. É essa força acionadora que torna possível prosseguir com determinação firme pelos caminhos incertos da vida, despido de descrenças ou arrogantes certezas obstinadas, apenas consciente do medo saudável que valida e torna digna a coragem verdadeira.
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