Sabemos que a doença do trato urinário inferior dos felinos possui várias etiologias,mas o quadro emergencial é bem característico e comum.
Quando nos deparamos com um felino obstruído,muitas vezes pensamos logo em anestesiá-lo e sondá-lo o quanto antes.Esquecemos que o mesmo pode estar a dias sem urinar,com um grande desequilíbrio eletrolítico,alta desidratação,com uma insuficiência renal aguda e o pior,prestes a um colapso cardíaco devido a hipercalemia.
Entretanto,a primeira lembrança deve ser o ABC de emergência:"A" de ar(via aérea patente),"B"(boa respiração) e "C'(circulação).Rapidamente os parâmetros vitais devem ser verificados como a coloração das mucosas,a frequência cardio-respiratória e pulso.O animal deve receber oxigênio direto via máscara,tenda com um colar-elizabetano ou em uma câmara.
A fluidoterapia deve ser instituída prontamente,indica-se normalmente a solução fisiólogica ou ringer-lactato para a ressuscitação,aumentando a perfusão renal.O ideal é que o paciente seja acompanhado por eletrocardiógrafo e aferição de pressão central,evitando assim uma sobrecarga de fluido e íons.
O próximo procedimento, que é de suma importância,consiste na cistocentese,que deve ser feita antes de qualquer manobra de desobstrução uretral.O método é simples e dificilmente acarreta complicações,em vista que a bexiga nesses casos é facilmente palpável.Somente com a retirada desta urina represada na vesícula e com a soroterapia bem assistida,podemos salvar a vida de um felino obstruído,por que assim damos condições de os rins voltarem a "funcionar",diminuindo os danos da azotemia pós-renal outrora instalada.
Concluindo-se esta primeira etapa emergencial,podemos preparar a sondagem vesical.Para isso nosso paciente deve estar sedado ou anestesiado superficialmente,nunca deve-se tentar esse procedimento "a força",somente com contensão física,jamais!Pois a chance de perfuração e laceração uretral e peniana é grande.O proporfol é muito bem recomendado,mas pode-se utilizar anestésicos voláteis e dissociativos em doses mínimas.
O processo deve ser o mais asséptico possível,lavando-se previamente a região com soluções degermantes e usando-se luvas estéreis,diminuindo-se o risco de infecções urinárias iatrogênicas.O procedimento deve ser feito com cautela e paciência,não é necessário usar de força.Uma massagem na uretra peniana é importante,a maioria das obstruções ocorrem nessa área,podendo assim facilitar o desalojamento de tampões.Com um gel lubrificante a base de água,introduz-se a sonda gradativamente,o pênis deve ser extendido em direção caudal para que fique paralelo ao eixo da coluna vertebral,para assim diminuir a curvatura normal da uretra felina.Sentindo-se resistência,injetamos solução salina para a remoção de microcálculos e/ou plugs.
Na maioria dos casos,a sonda deve ser fixada.Dependendo do quadro de estrangúria,ela pode permanecer por até 48 horas.Durante este período a bexiga deve ser" lavada" com solução salina.É necessário que no período de pós-obstrução a fluidoterapia seja continuada ,com o cuidado de acrescentar o cloreto de potássio às soluções,combatendo à hipocalemia pós-obstrutiva.
Nos casos em que a sondagem não logrou éxito,a cistocentese pode ser repetida até duas vezes por dia,por no máximo 3 dias,até que que a manobra definitiva, cirúrgica ou não,possa ser realizada.
O controle da dor é fundamental,o Tramadol é muito bem utilizado.Cuidado com os anti-inflamatórios não esteróides,é muito perigoso usá-los em gatos obstruídos devido à debilidade da função renal.O ideal que se espere alguns dias para entrar com um protocolo à base de DAINES,caso necessário.Corticóides como a prednisona ,podem ajudar em casos de extrema inflamação uretral e estenose,entretando também podem piorar o quadro de disfunção renal e predispor o animal à infecções urinárias oportunistas,um gato enquanto sondado não pode receber corticóide.
Os antibióticos foram muito usados antigamente,mas atualmente sabemos que apenas 2% dos casos de FLUTD são devidos à infecções,comumente a urina é asséptica.A hematúria é devido a inflamação e a vasodilatação na mucosa da bexiga e não a processo infeccioso.Se o processo de sondagem foi com todos os cuidados de higiene ,não há motivos para a antibioticoterapia.Se houverem dúvidas em relação a isso,o recomendado é iniciar o fármaco depois da retirada da sonda,podendo-se basear em um resultado de cultura urinária.
Sabemos que todos nós poderemos ter vivências diferenciadas,com protocolos distintos e opiniões diversas.Mesmo não seguindo-se os guias(guideliness)recomendados pelos inúmeros estudos podemos ainda salvar vidas,porém,se os seguimos salvaremos muito mais!
O importante é conhecer também a multifatorialidade desta síndrome,sabermos as etiologias possíveis e investigar cada caso,trabalhando com a anamnese,exame clínico,laboratoriais e de imagens.
quinta-feira, 27 de maio de 2010
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