Realização de desejos – Uma das principais funções de nossos sonhos é a realização de desejos, conscientes ou não. A repressão constante de desejos poderia nos levar a várias psicopatologias, em particular às depressivas e histéricas, ao passo que a satisfação indiscrimidada poderia nos levar ao hedonismo ou à sociopatia. Assim, o sonho pode servir como válvula de escape, prevenindo a neurose e restabelecendo nosso equilíbrio. Nessa categoria temos, por exemplo, os sonhos de adolescentes com sexo.
Condensação – Os sonhos podem reunir em uma só imagem elementos de vários conteúdos. Por exemplo, uma pessoa aparentemente desconhecida em um sonho pode apresentar, quando analisada, o nariz de uma pessoa de nosso convívio, nome de outra, roupas de uma terceira e a profissão de uma quarta. Nesses sonhos, pode ser útil observar o que os elementos ou pessoas condensados tem em comum, ou em que campo de nossa vida ou personalidade se fazem conjuntamente presentes.
Deslocamento – Ocorre quando o inconsciente desvia o conteúdo de uma pessoa ou situação para outra, seja por similaridade, seja para diluir uma carga psíquica que ainda recusamos a admitir. Por exemplo, se ainda não aceitamos que já gostamos de alguém, pode ser que sonhemos com outra pessoa em seu lugar. Também é comum, em clínica, que pacientes relatem sonhos “prevendo” a morte de outros parentes, distantes ou já desencarnados, quando uma pessoa a quem são ligados está prestes a desencarnar.
Compensação – Importante função, descoberta por Jung, em que o sonho parece reequilibrar uma balança psíquica, através da apresentação de um conteúdo inverso. A intensidade da correção é proporcional ao desequilíbrio da vida desperta, sem fazer juízo moral. O sonho evita que a descompensação interna não trabalhada se transforme em neurose, ou, pior, que sua energia psíquica acumulada se materialize na forma de sincronicidades negativas, karma ou atração de situações desnecessárias. Como exemplos, temos a pessoa ciumenta que constantemente sonha que está sendo traída; o depressivo que, na falta de motivação em vida, “compensa” dormindo e sonhando em excesso; o funcionário humilhado que sonha agredir o chefe; e a pessoa com baixa auto-estima que sonha se sentindo “honrada” por estar na presença de pessoas famosas. Jung relata também o caso de um paciente que supervalorizava a mãe, mas sonhava sempre que ela seria uma bruxa. Até mesmo a realização de desejos, de Freud, pode ser vista como um caso particular da função compensação. Ainda que o ciumento do exemplo não deseje (conscientemente) uma traição, pode vir a tê-la não como premonição, mas como conseqüência de suas próprias posturas e inseguranças projetadas. As compensações são diferenciadas das falsas previsões pelo seu sentido contrário à vida, pela sua natureza exagerada e reversa, quase como espelho ou caricatura, tendo sempre um caráter reparador de um excesso, falta ou repressão que já cometíamos.
Prospecção – Similar a uma previsão de futuro, entretanto, não possui caráter paranormal, e sim, a conseqüência de algo que ainda não percebemos conscientemente, mas que tende fortemente a se realizar. O inconsciente consegue perceber o rumo que as coisas tomam e nos avisa de antemão, a exemplo de um computador que antecipa inúmeras jogadas de uma partida de xadrez. A diferença da prospecção para a premonição é que aqui não se trata de uma questão de destino ou deslocamento no tempo, e sim, da atuação lógica de uma inteligência maior, permitindo e sugerindo uma atitude que modifique o que foi vislumbrado.
Metáforas – O inconsciente é atemporal, e, portanto, não fala em nossa linguagem objetiva e seqüencial. Ele tem sua lógica e tradução, mas é preciso notar que suas mensagens são, em geral, simbólicas e metafóricas, onde um quadro subjetivo representa, com propriedade quase artística, um conteúdo psíquico ou situação concreta importante. Assim, a forma como dirigimos um carro pode simbolizar nossa condução de vida; uma sensação de exposição ou falta de privacidade pode ser retratada como nudez e dificuldades concretas podem virar montanhas em sonhos. Como um pintor em busca de inspiração, o inconsciente usa a imagem que melhor exemplifique a situação. Como exemplo, uma pessoa com má condução de vida, que tenha passado o dia dirigindo pode sonhar, à noite, com a estrada - mas, provavelmente, a forma como dirige no sonho tratará mais de sua vida psíquica do que da viagem do dia anterior.
Premonição – São sonhos onde o inconsciente, que é atemporal, percebe situações do futuro. São bem mais comuns do que imaginamos, mas a maioria das premonições observadas não tem caráter de alerta ou profético, mas apenas o de escolher, no dia seguinte ou em dias futuros particularmente marcantes, algo que ilustre um conteúdo simbólico que precise muito representar. É como se o inconsciente observasse o tempo do alto de uma pirâmide, à procura da imagem mais adequada – passada, futura, arquetípica, coletiva, mitológica – para condensar em uma só metáfora. Por exemplo, ao conversarmos com um colega de trabalho podemos lembrar que sonhamos exatamente com a frase que ele acabou de dizer. Neste caso, mais que prever um diálogo simples, o inconsciente está se valendo da situação ou conteúdo como metáfora de algo mais importante.
Projeção astral – Caso particular em que a alma se emancipa temporariamente do corpo físico, entrando em contato com o mundo espiritual. Pode ser consciente ou não durante sua ocorrência, e também variar em grau de rememoração ao acordarmos depois. Mais detalhes no começo deste artigo.
Materialização de desejos – Se tendemos a plasmar no astral aquilo que desejamos fortemente, especialmente aquilo em que estamos pensando no momento de dormir; e se tudo que há no astral tende a se duplicar e materializar no plano material, temos, então, que os sonhos podem ser, para bem ou para mal, visões do que estamos construindo para o nosso futuro. Isso pode ser utilizado como técnica de co-criação de realidades, no caso de imagens positivas; ou de correção de rumos em relação ao que tende a acontecer de “indesejado” (na verdade, desejado equivocadamente), caso não mudemos a condução de nossa vida.
Sonhos criativos – Os sonhos podem trazer a resolução de problemas que estudamos, ou a síntese de uma criatividade artística, literária, musical ou intuitiva. Muitos escritores escreveram seus clássicos a partir dos sonhos. A invenção da máquina de costura, a descoberta da estrutura cíclica do benzeno e até mesmo a surpreendente disposição dos elementos químicos na tabela periódica de Mendeleiev são exemplos de sonhos que resolveram problemas consideráveis. Entretanto, em todos esses casos, o sonhador sempre estava trabalhando anteriormente no problema. Ou seja, o sonho criativo constitui uma inteligência de síntese superior à capacidade racional da mente consciente.
Outras visões
Para Frederick Perlz, criador da Gestalt, nenhum sonho é desprovido de sentido. Tudo deve ser integrado e todo elemento presente no sonho é uma parte da personalidade projetada. Já para Ann Faraday, os sonhos tratam também das grandes questões existenciais que precisam ser enfrentadas em algum momento da vida e que são anunciados por angústia ou desconforto emocional. Para Sigmund Freud, todo sonho seria a realização de um desejo, e sua linguagem empregaria deslocamentos e condensações. Para Donald Winnicott, os sonhos tratam do “cuidado”, às vezes sugerindo uma atitude restabelecedora, sendo que podemos sonhar o sonho de outra pessoa. Assim, pode haver sonhos de um casal, sonhos do paciente para um analista, e até mesmo a possibilidade de um governante sonhar o sonho de uma nação, como no clássico sonho do faraó do Egito, interpretado por José, na Bíblia.
Sonhos na Antigüidade
Os registros mais antigos que possuímos de estudos de sonhos vêm dos assírios, em 6000 a.C.. Placas traduzidas revelaram ser um profundo estudo sobre interpretação de sonhos, que atribuía a sua origem ao contato com espíritos. Já os egípcios acreditavam que os sonhos vinham dos deuses e serviam para aconselhamento, avisos premonitórios ou resposta a perguntas do sonhador. Gregos possuíam templos de incubação de sonhos, onde os deuses visitavam o sonhador e respondiam às suas perguntas. Hipócrates estudou os significados dos sonhos de doentes, antecipando diagnósticos. Platão estudou a natureza da alma humana, antecipando conceitos próximos ao inconsciente, à repressão de desejos e à sombra, que a Psicanálise só estudaria 2500 anos depois. Aristóteles escreveu três livros sobre os sonhos. O curioso é que os temas mais comuns dos sonhos estudados pelos antigos continuam presentes até hoje. Em qualquer cultura, tempo e local, todos os homens tendem a sonhar, por exemplo, com águas sujas, perseguição, perdas de dentes, nudez, provas para as quais não está preparado, sexo, realização de desejos, quedas inesperadas e capacidade de voar, aparentemente, todos com significados também comuns.
Já no Gênesis, no Antigo Testamento, José interpreta sonhos de prisioneiros e do Faraó, salvando o Egito das conseqüências de um tempo de grande fome, a partir da interpretação do simbolismo de sete vacas gordas e magras. Com suas habilidades em escutar as mensagens de Deus nos sonhos, particularmente os premonitórios, José sai da condição de escravo para a de braço direito do Faraó.
O profeta Daniel, o mesmo da cova dos leões, também desvenda diversos sonhos na Bíblia, seja para salvar sua própria pele, seja para interpretar os sonhos do Rei Nabucodonosor. O próprio livro do Apocalipse, assim como várias outras passagens de apóstolos e profetas, são relatadas como visões que o escritor teve durante sonhos e saídas do corpo, “onde teria sido levado por Deus aos céus”.
sábado, 1 de maio de 2010
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