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terça-feira, 6 de julho de 2010

As finalidades do uso didático de animais e as vantagens dos substitutivos




São várias as finalidades dos experimentos realizados com animais nas universidades brasileiras:

- Observação de fenômenos fisiológicos e comportamentais a partir da administração de drogas e outras substâncias,
- Estudos comportamentais de animais em cativeiro,
- Conhecimento da anatomia interna,
- Desenvolvimento de habilidades e técnicas cirúrgicas.

Estes experimentos são comuns em cursos de Medicina Humana e Veterinária, Odontologia, Psicologia, Educação Física, Biologia, Química, Enfermagem, Farmácia e Bioquímica, e eventualmente em outras áreas das ciências biológicas e da saúde.

Abaixo estão descrições breves de alguns dos experimentos mais encontrados nas universidades.

1. Miografia: um músculo esquelético, geralmente o zigomático, na perna, é retirado da rã, onde estuda-se a resposta fisiológica deste músculo à estímulos elétricos. As respostas são registradas em gráficos. O músculo é retirado da rã ainda viva, anestesiada com éter.

2. Sistema nervoso: uma rã é decapitada, e um instrumento pontiagudo é introduzido repetidamente na espinha dorsal do animal, observando-se o movimento dos músculos esqueléticos do restante do corpo.

3. Sistema cardiorespiratório: um cão é anestesiado, tem seu tórax aberto, e observa-se os movimentos pulmonares e cardíacos. Em seguida aplica-se drogas, como adrenalina e acetilcolina, para análise da resposta dos movimentos cardíacos. Outras diversas intervenções ainda podem ser realizadas. O experimento termina com a aplicação de uma dose elevada de anestésico, ou de acetilcolina (o que causará parada cardíaca).

4. Anatomia interna: diversos animais podem ser utilizados para tal finalidade. Geralmente os animais já estão mortos, ou são sacrificados como parte do exercício, com éter ou aplicação intravenosa de substâncias letais.

5. Estudos psicológicos: animais como ratos, porcos-da-índia, ou pequenos macacos, podem ser utilizados como instrumentos de estudo. São vários os experimentos que podem ser realizados: privação de alimentos ou água, para estudos diversos (caixa de Skinner, por exemplo); experimentos com cuidado materno, onde a prole é separada dos genitores; indução de estresse, utilizando-se métodos como choques elétricos, por exemplo; comportamento social em indivíduos artificialmente debilitados ou caracterizados. Alguns animais são mantidos durante toda sua vida em condições de experimentos, outros são sacrificados devido à condições extremas de estresse ou quando não podem mais ser reutilizados.

6. Habilidades cirúrgicas: muitos animais podem ser utilizados para estas práticas. Os animais geralmente estão vivos e anestesiados, enquanto as práticas se procedem. Os exercícios de técnica operatória são comuns em faculdades de medicina veterinária e humana, e exigem uma grande quantidade de animais.

7. Farmacologia: geralmente pequenos mamíferos, como ratos ou camundongos. Drogas são injetadas intravenosa, intramuscular ou diretamente no estômago (via trato digestivo por catéter, ou por meio de injeção). Os efeitos são visualizados e registrados. O “diabetes” também pode ser induzido em animais, de modo a verificar-se os efeitos de substâncias no organismos destes animais, como a glicose, por exemplo.

A Crítica

Estas práticas didáticas vem sendo severamente criticadas por muitos educadores e profissionais, onde argumentos de ordem ética e, em alguns casos, técnica, são levantados em favor de uma educação mais ética e responsável.

A grande maioria destes experimentos podem ser substituídas por tecnologias que envolvem simulações em computadores (CD Roms), modelos anatômicos e vídeos interativos. Existe um crescente número de artigos científicos que comprovam que estudantes que passaram por estas técnicas aprendem igualmente, e em alguns casos melhor, do que estudantes que passaram pelo uso tradicional da vivissecção. As vantagens destes substitutivos são muitas:

- Economizam tempo: gasta-se muito tempo com a preparação da experimentação animal. É comum que experimentos práticos com animais não dêem certo, ou dão margem à interpretações confusas de certos fenômenos biológicos.

- Possibilitam melhor aprendizado: simulações interativas permitem que o estudante volte atrás em algum passo ou estágio do experimento, o que não é possível em muitos experimentos in vivo. Cada estudante pode, desta forma, aprender de acordo com seu ritmo, e repetir todo o experimento, se necessário. Além do que, esta tecnologia não cria a dependência do laboratório e de pessoal especializado para o estudo, permitindo que o estudo seja realizado até mesmo em casa. Outras muitas informações e recursos ainda podem ser acessados, dependendo da alternativa utilizada

- São econômicas: ao contrário do que muita gente pensa, os substitutivos são financeiramente viáveis. Isto porque o uso de animais implica em grandes gastos com manutenção (cuidados, alimentação, instalações, etc.) e pessoal especializado (técnicos e veterinários), e os substitutivos possuem um tempo de vida muitas vezes indeterminado, não sendo descartáveis como os animais utilizados.

- São éticas: o oferecimento de substitutivos respeita os princípios éticos, morais ou religiosos de estudantes que se opõem ao uso de animais para estas finalidades.

- São possíveis: muitas universidades de muitos países vêm substituindo o uso de animais nos currículos de diversos cursos e oferecendo substitutivos para os estudantes. As experiências destas universidades comprovam que a aplicação de substitutivos são possíveis e viáveis.

Mais do que soluções hi-tech

Não podemos pensar nos substitutivos apenas como recursos tecnológicos ou softwares. Muitos substitutivos envolvem a experiência clínica real em clínicas e hospitais, onde estudam-se em pacientes reais, por exemplo, o efeito de drogas administradas clinicamente, e acompanha-se o tratamento destes pacientes até sua recuperação. Outra alternativa, neste caso para o estudo de anatomia e técnica operatória em animais, é o convênio de faculdades com fazendas ou clínicas veterinárias, onde animais mortos podem ser adquiridos para posterior estudo.

No caso da técnica operatória humana, médicos cirurgiões e educadores questionam o uso de cães para o ensino de cirurgia. Os principais motivos que levam à este questionamento são as discrepâncias entre a anatomia humana e a canina, assim como a elasticidade da pele, o coeficiente de vazão sangüínea epidérmica e outras características que não se aplicam na cirurgia humana. Outro ponto importante que se salienta é a dessensibilização que os estudantes sofrem ao terem que passar por práticas que contrariam princípios médicos como o de salvar vidas. Os substitutivos para tais práticas são o acompanhamento de cirurgias humanas em hospitais e clínicas, primeiramente com observação, seguida de estágios de intervenções simples severamente supervisionadas por cirurgiões experientes, passando para intervenções sucessivamente mais complexas. Assim se aprende cirurgia em muitos países, como Inglaterra e Estados Unidos.

Os substitutivos também possuem a vantagem de serem combinadas. As práticas e experiências clínicas podem ser acompanhadas de reforço por substitutivos e metodologias diversas, aumentando a experiência do estudante, e contribuindo para formação de um profissional sensível e responsável.

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