quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
Homens x Mulheres, como entender um ao outro
Já no final de sua vida, em carta à amiga princesa Marie Bonaparte, Sigmund Freud lhe fez uma pergunta que se tornou célebre: “o que quer uma mulher?”. Após 30 anos de estudos sobre os mecanismos psíquicos humanos, o eminente fundador da Psicanálise confessava que aquilo ainda o intrigava. Não é difícil compreender o porquê desta questão se fizermos um rápido retrospecto e pensarmos no contexto em que Freud escrevia. No início do século XX havia um “abismo” entre homens em mulheres, que tinham funções sociais bastante diferentes e bem marcadas: elas cuidavam dos afazeres domésticos e da criação dos filhos, enquanto eles trabalhavam e sustentavam a família financeiramente. Nesta época, a sexualidade feminina se restringia a dar prazer ao homem e à procriação. Mulheres não podiam nem deviam sentir prazer nas relações sexuais, ou correriam o risco de serem consideradas prostitutas.
Como sabemos, o mundo mudou bastante e essa realidade sofreu intensas transformações. Houve uma revolução sexual impulsionada em grande parte pelo movimento feminista, que lutou pela igualdade de direitos entre homens e mulheres. A mulher deixou de ser apenas dona de casa e entrou no mercado de trabalho. Surgiu a pílula anticoncepcional, que levou à desvinculação entre sexo e procriação. As relações sexuais tornaram-se mais prazerosas, sendo este prazer agora “permitido” e desejável.
Com todas essas mudanças, homens e mulheres hoje têm desejos iguais, tendo desaparecido o “abismo” que havia antes? Eu diria que não. Aproximadamente 80 anos após a pergunta de Freud à Marie Bonaparte, pergunta semelhante é feita, porém agora por uma imensa quantidade de mulheres, que nos escreve perguntando: “afinal de contas, o que querem os homens?”. Em sua maioria elas se queixam de que eles “só querem sexo”, “vêm logo falando em sexo” e coisas parecidas. Todas essas perguntas nos levam a crer que todos os avanços e transformações, que certamente aproximaram homens e mulheres, não os tornaram iguais, de maneira que estes são diferentes e têm desejos distintos, especialmente os relacionados à sexualidade. Há, no entanto, um ponto importante em comum, que é fácil de passar despercebido: ambos frequentemente desvinculam relações sexuais e “relacionamento sério”. Como? Vamos por partes.
Em primeiro lugar, deixemos claro que quando nos referimos a homens e mulheres estamos fazendo generalizações, não querendo afirmar que todos são exatamente iguais e pensam da mesma maneira. Concepções relativas à sexualidade, aos papéis masculino/feminino e aos relacionamentos de modo geral são essencialmente culturais, e o que é aceitável em uma determinada cultura pode ser visto como inaceitável em outra.
Passemos então aos homens. Pensemos especificamente naqueles que estão cadastrados no ParPerfeito em busca apenas de relações sexuais. Evidentemente não são todos, e não me arriscaria nem mesmo a dizer que são maioria, mas eles certamente existem. Não querem compromisso, muitas vezes já têm outros relacionamentos e desejam apenas se divertir e ter prazer sexual. Muitos são capazes de ter relações que se limitam à parte sexual, não havendo um envolvimento afetivo maior. Aqui está a desvinculação entre sexo e “relacionamento sério”: uma coisa não implica na outra, ou seja, é possível que façam sexo com diferentes mulheres ou com a mesma repetidas vezes sem se apaixonarem ou desejarem ter compromisso com elas. Sobre os outros, que estão buscando relacionamentos sérios, falaremos adiante.
Mas e as mulheres, como fazem para desvincular sexo de envolvimento afetivo, já que o comportamento delas é geralmente diferente do que descrevemos em relação a esses homens? Pois bem, quando elas escrevem dizendo “eles só pensam em sexo” ou “eles falam logo em sexo”, a maior parte completa com algo como “será que ninguém quer um relacionamento sério como eu?”. Ou seja, parece haver – mais até do que uma desvinculação – uma oposição entre sexo e relacionamento sério, como ambos fossem excludentes. Por esse raciocínio, querer namorar tornaria o sexo algo secundário. Por outro lado, desejar ter relações sexuais seria um indício de que o outro não quer nada sério. Vemos, assim, que o sexo muitas vezes não é visto como parte de uma relação “séria”, estando ligado à falta de compromisso.
Mas por que essa oposição? Apesar de todas as transformações geradas pela revolução sexual, parece haver ainda em nossa cultura um pensamento diferente sobre “mulheres direitas” e “mulheres fáceis”. Pensar assim é compreensível, pois as mudanças se deram há muito pouco tempo – se pensarmos em termos históricos – e continuam em andamento. Dessa forma, não apenas muitas mulheres fazem essa distinção, mas também diversos homens. Estes geralmente fazem uma diferença entre aquelas mulheres com quem só desejam se divertir e ter prazer e outras, a quem têm maior respeito, com quem desejam namorar.
Se é verdade que pode haver sexo sem envolvimento afetivo, por outro lado o relacionamento considerado “sério” inclui o sexo. Nesse caso, geralmente quando tudo vai bem, as relações sexuais vão bem. Não é possível isolar um do outro como querem muitas pessoas, acreditando que, se querem namorar não devem falar ou pensar em sexo. O que dizer então sobre os homens que, aos olhos das mulheres, “só querem sexo”? Bom, em primeiro lugar, como já disse, certamente há os que entram no ParPerfeito desejando apenas relações sexuais. Mas também certamente há outros que buscam um relacionamento sério, mas falam em sexo por pensarem que este faz parte da relação. E aí acontece o mal-entendido: elas acreditam que, como eles tocaram no assunto, não querem namorar, querendo apenas se divertir ou até mesmo usá-las apenas para obterem prazer.
Após todas essas reflexões, uma nova pergunta se coloca: afinal de contas o que querem homens e mulheres? É claro que essa é uma resposta impossível de ser dada, já que pessoas diferentes têm desejos distintos. No entanto, eu me arriscaria a dizer que muitos, independentemente do gênero, querem o mesmo: encontrar alguém para ter um relacionamento estável de amor e companheirismo. A diferença talvez resida na importância dada ao sexo no relacionamento. Enquanto certos homens pensam que um está totalmente vinculado ao outro, algumas mulheres os vêem como entidades separadas, ainda que valorizem as relações sexuais e desejem ter prazer com elas. Cabe a elas fazer a integração entre ambos e perceber que podem sim desejar ter prazer ao mesmo tempo em que querem uma relação séria. Cabe a elas ainda compreender que os homens que falam em sexo não necessariamente estão as usando ou não desejam namorar. É preciso saber distinguir os que tocam no assunto por não quererem nada sério daqueles que o fazem por acreditarem que uma relação séria inclui o sexo como uma parte importante. A eles, cabe explicitar suas verdadeiras intenções, sendo claros quando querem apenas se divertir e quando desejam ter um relacionamento sério que tenha o sexo como parte importante. Cabe a eles também ter a sensibilidade para entender que quando algumas mulheres evitam falar sobre sexo, não significa que elas não desejem ter relações sexuais, mas que, em seu pensamento, estas podem, em um primeiro momento, estar desvinculadas da ideia de namoro.
É apenas através de muita conversa que ambos – homens e mulheres – poderão perceber se suas expectativas e intenções combinam a ponto de poderem iniciar um relacionamento. Como diz o sábio dito popular: conversando a gente se entende!
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