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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Decepções perfeitamente evitáveis


percebo que muitas decepções poderiam ser evitadas se não houvesse expectativas que fogem, e muito, da realidade.

Há mulheres que tomam como garantia de que estão tendo uma relação séria com alguém o fato de esse alguém declarar, por exemplo, que está gostando muito delas, e de se comunicarem várias vezes por dia, seja por e-mail ou telefone. Na verdade, sequer se conheceram pessoalmente, ou, em outros casos, se viram apenas uma ou duas vezes.

Não me interessa, nesse caso, se a pessoa que cultiva a fantasia dessas mulheres tem ou não caráter, se é um indivíduo imaturo ou inexperiente, volúvel, se é um neurótico a se divertir com o fato de construir sonhos para depois frustrá-los. O que interessa é a posição da mulher diante de manifestações pouco sólidas e improváveis. Por que motivo, acreditam tão piamente em meras palavras quando se relacionam com homens que mal conhecem? Boa fé e ingenuidade, costumo dizer, são traços inadequados para os dias que estamos vivendo. Mais vale uma dose razoável de desconfiança, sem precisar chegar, acredito, àquela máxima dos tempos da ditadura, em que fulano era culpado até prova em contrário.

Sem dúvida, o ideal seria o inverso: fulano é inocente até prova em contrário. Se você prefere que seja assim, é aconselhável, pelo menos, manter um pé atrás como medida de precaução. Relações duradouras precisam de tempo para a construção das bases. O que não é possível é ver mulheres se queixando de que os homens brincam com seus sentimentos. Sim, pode ser que eles brinquem. Num site de relacionamentos, também há pessoas que só querem se divertir e algumas fazem brincadeiras de mau gosto. Mas será que mulheres modernas não sabem se proteger? Por que insistir em acreditar nos contos de fadas? Nesses contos, não há imprevistos, a não ser os positivos, e quando surgem atropelos, são corrigidos por um final feliz.

Um homem me diz que vai tomar um avião para conhecer uma mulher em outro estado. E olha que nosso país é grande e as passagens aéreas são caras. Mas vale a pena um esforço para conhecer aquele ou aquela que dão a impressão de que podem ser a pessoa capaz de nos fazer feliz. Além do mais, é bom conhecer o país em que se vive...

Pelo perfil (com belas fotos) e através de contatos por e-mail e telefone, ele está convencido que aquela mulher tem tudo para ser a mulher da vida dele. Se for um homem inseguro, irá se preocupar, em primeiro lugar, em ver se é aceito por ela. Não parece preocupado em saber quem é de fato essa mulher que está indo encontrar. Provavelmente só irá perceber o que deseja. Olhou, gostou, conclui que ela é aquela que procurava e já a toma como objeto de sua propriedade. A mulher percebe e se tiver uma boa cabeça, rapidamente conclui que ali existe alguma coisa errada. Muita precipitação e um senso de observação precário são sempre sinal de pouco equilíbrio emocional. Afasta-se. Ele fica deprimido. Ora, os encontros têm exatamente como objetivo uma avaliação mais fundamentada. Como é possível se imaginar que todos os encontros vão selar um compromisso? Podem também dar fim a um mal-entendido, a um engano. Podem apostar!

Ia tudo tão bem, diz uma jovem senhora. Ele vinha de outro país para nos encontrarmos e estávamos apaixonados. (Ela não se dá conta de que para se usar o pronome “nós” e falar por alguém, é preciso muito conhecimento e convivência.) Falávamos horas ao telefone. Surgiu um trabalho em outro lugar e, subitamente, ele comunica que está tudo terminado entre nós. Ela passa a sofrer intensamente e afirma que não acreditará mais em homem algum. Melhor assim. Melhor do que acreditar em todos. Confiemos que há de chegar o momento em que ela saberá ser mais crítica e cuidadosa, apaixonando-se, não pelo que idealizou, mas por alguém que lhe dê motivos mais concretos para tal. Longe dela, imaginar que seu “príncipe” talvez já estivesse em contato com outras mulheres e que, de repente, conheceu alguém que lhe pareceu mais conveniente, ou que tenha lhe atraído mais. Isso acontece!

Nos apaixonamos e só então ele me revelou que é casado! Bem, essa é uma velha técnica. Ele não iria dizer que é casado logo de saída: você poderia ser do tipo que se recusasse a manter uma relação com um homem casado ou, quem sabe, iria “exigir” que ele lhe dissesse que estava para se separar, que é infeliz com a mulher e já não transa com ela. Ele prefere esperar que você se apaixone e aí, não em consideração a você, mas pensando nele mesmo, nos incômodos que você pode vir a causar, conta a verdade. Quando o faz, é como se dissesse: Está em suas mãos. Se quiser continuar comigo é nesses termos. Não posso ou não pretendo me separar por causa dos filhos pequenos, da pobre mulher tão dedicada, tão dependente etc. etc.

Se você entra numa relação sem usar seus instrumentos mais refinados: sensibilidade, autopreservação, auto-estima etc. não deve se queixar que a culpa é do outro. O outro nem sempre consegue se cuidar bem, quanto mais cuidar de você, se ainda nem sabe direito quem é. Alguns detectam, muito depressa, que você é ingênua e que já o toma por alguém que conhece há muito tempo. Uns se afastam – os bem intencionados – outros se aproveitam dessa situação.

Mensagem: Procure se conhecer bem, saber em que mundo está vivendo, e não se entregue de corpo e alma ao primeiro que lhe diz: Estou apaixonado por você! Quero me casar com você! E isso é válido para os homens que se empolgam com garotas espetaculares! Garanto que as decepções serão menores ou não haverá decepções.

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