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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

PRECONCEITOS (Parte I)

Vou me referir aqui a alguns preconceitos, levando em conta aqueles de que mais se tem falado aqui no Site: racial, nível de escolaridade, idade.

Preconceito contra cor: Nos idos de 66/67, em Paris, era comum ver-se negros africanos acompanhados de belas louras nórdicas ou de outras partes da Europa. Não existia o menor preconceito entre esses casais nem em relação a eles. Para os brasileiros, porém, era algo inédito e escandaloso; faziam-se piadas insinuando que o sucesso dos negros se devia ao fato de que eram muito bem dotados anatomicamente para o sexo. Uma visão preconceituosa típica, que procurava desqualificar o negro e que escondia, às vezes, uma boa dose de inveja.

Entre estudantes de esquerda lia-se livros como o de Franz Fanon, “Les Damnés de la Terre”, prefaciado por J.P.Sartre. ou “Os deserdados da terra”, como, se não me engano, foi traduzido para o português, anos depois. Nele, Fanon criticava a discriminação racial que levava a um nível tal de irracionalidade que dava ensejo a pesquisar-se o cérebro dos negros, como se faz com o das mulheres, buscando encontrar nele uma base que provasse sua inferioridade diante do cérebro (inteligência) dos brancos.

Os negros e asiáticos que iam estudar na Europa, no entanto, talvez por pertencerem a famílias economicamente privilegiadas em seus países de origem, possuiam uma cultura igual ou superior a de qualquer estudante branco, uma vez que haviam frequentado boas escolas, indo finalmente aprimorar seus estudos na Europa ou nos Estados Unidos. Não havia nenhuma desigualdade educacional que dificultasse uma estreita convivência com eles.

No Brasil do novo milênio, pretende-se erradicar o racismo com leis. Só a educação poderá esclarecer a todos, sobretudo aos brancos, o que representou para a raça negra o desenraizamento que lhe foi imposto pelo tráfico escravagista, e a aculturação, também imposta, que sofreu, da mesma forma que os indígenas que aqui viviam antes do Descobrimento. A Igreja se julgava com o direito de catequisar aqueles que nada sabiam da religião católica. O Governo nada fez, depois da Abolição, para dar aos ex-escravos condições de estudar e conquistar um lugar na sociedade. Note-se que todos os negros que tiveram acesso à cultura e a um bom nível econômico - quase sempre por sorte, sendo, por isso, minoria - se tornaram aceitos e respeitados.

Pode-se dizer então que o racismo que ainda vigora por debaixo dos panos é consequência de uma mentalidade que o mundo atual não mais comporta. Todos aprenderam na escola que a Abolição deveu-se à conscientização político-social e à bondade da princesa redentora. Ficamos sabendo depois que as coisas não se passaram bem assim. Os escravos eram comprados e seu sustento estava se tornando caro. Os que praticavam esse tipo de tráfico passaram a ser mal vistos pelos países partidários das idéias liberais que surgiam no mundo. Alforriados, os ex-escravos eram contratados mediante salários pífios e suas moradias eram construídas por eles mesmos, em péssimas condições, no alto dos morros. As despesas dos “senhores” ficavam menores e o Brasil reconquistou uma boa imagem. Mas continuava a segregação.

Bem, estamos agora diante de novos fatos. As coisas começam a melhorar. Mudando-se os hábitos (mesmo que às custas de leis), fica mais fácil mudar o modo de pensar. Da mesma forma que a infância pode deixar marcas difíceis de serem superadas, assim sucede com os fatos sociais. O movimento cultural procura reabilitar a imagem da nossa raça miscigenada: os direitos são iguais para todos. Políticos, artistas e, aos poucos, o povo, em geral, se orgulham de falar de algum sangue negro em suas veias.

Apesar disso, aqui no Par, Helena me escreve dizendo que foi enganada. Conversou muito tempo com um homem interessantíssimo e descobriu, no encontro, que ele era negro. Todo o interesse dela desapareceu; toda a atração que ele havia despertado nela esfumou-se. Ela confessa que detesta “gente de cor”. O que fazer? Ele esconde a verdadeira cor, ela não se dá chance de nenhuma mudança. Quer permanecer fincada em seus preconceitos. Ela é fruto de uma posição que não assumiu por si, que lhe foi transmitida pela família, e mantém à mostra o sintoma de dependência. Tem a oportunidade de rever seus valores, idéias ultrapassadas, admite que se deixou conquistar por esse homem - o que prova a igualdade entre os dois - porém ele nasceu com a cor da pele diferente da sua... E a insegurança dele, será que não o fez perder o charme quando se viu diante dela, a branca que precisou enganar para ter a chance de tê-la tão próxima?
O desejo não precisa ser explicado, apenas reconhecido. Será que se poderia pensar que Helena não deseja um homem de pele negra? Pelo que diz em sua carta, ela parece incapaz de responder a essa pergunta. A cultura tem sua força repressora, mesmo que defasada. Esse desencontro pode se dever, então, a uma censura que não permite que o desejo próprio apareça e, sim, o desejo da família, da cultura cultivada por esta, e que Helena, sem saber direito por quê, endossa.

A história termina e fica-se sem saber o quê realmente atuou: a falta de desejo (não gostou dele como não gostaria, mesmo que fosse branco) ou o preconceito (não se permite sequer olhar para um homem negro)? E ele, procura uma mulher branca porque ela representa o que há de melhor, funcionando como símbolo de seu desejo de ascenção e reconhecimento, ou seu desejo foi moldado pelo que a cultura colocou dentro dele como sendo o mais desejável? E por que esse homem suporta ter que fingir? Talvez o gozo que os homens têm experimentado ao enganar e frustrar as mulheres, tema sempre discutido no Site, se deva ao desejo de confrontá-las com sua “inferioridade” perante o poder que era apanágio unicamente masculino e que a independência delas passou a ameaçar e, em alguns casos, a assustar.

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