Urgente: Procura-se um amor

por que tantas pessoas parecem ter tamanha urgência? Por que tanta ansiedade de ter alguém de maneira rápida, como se fosse “a última esperança”?

Vamos pensar nos métodos, digamos, tradicionais, para se “ficar” ou namorar. Esquecendo a existência da Internet, como as coisas se passam? É evidente que há infinitas possibilidades, mas vamos nos restringir a apenas alguns exemplos. Podemos conhecer alguém na boate, em um bar, em uma festa, no trabalho ou no colégio/faculdade. Essa pessoa pode nos ser apresentada por um amigo ou conhecido, ou pode, ela mesma, se apresentar a nós, mostrando seu interesse. Há ainda a possibilidade de nós mesmos nos interessarmos e irmos até a pessoa. Em qualquer um desses casos, geralmente acontece uma conversa, que será mais curta ou mais longa, dependendo de ambas as pessoas e da situação. Em uma boate ou uma festa, por exemplo, talvez seja mais viável ir “direto ao assunto”, fazendo com que o casal “fique” sem que muitas palavras precisem ser ditas. Com exceção dessas situações, nas outras o mais comum é haver muita conversa antes que algo “concreto” aconteça. Por exemplo, se uma amiga apresenta alguém à outra, o “quase-casal” certamente vai conversar e talvez não aconteça nada além disso de imediato. É possível que um telefone para o outro e que marquem um novo encontro a sós. Nesse, talvez eles se beijem, talvez não. O mais provável é que eles saiam e “fiquem” muitas vezes até que decidam namorar. Tudo isso pode acontecer em um mês? Claro que pode. Mas certamente não é o mais comum. Geralmente é preciso um, dois, três meses, ou mesmo mais do que isso, até que o relacionamento fique realmente “sério”.

Se fora da Internet as coisas ocorrem dessa maneira, porque no site de relacionamentos o tempo parece passar mais rápido, gerando um “desespero” que nem sempre existe em outras situações? Em primeiro lugar, creio haver uma confusão entre as facilidades do site e a facilidade de ter um relacionamento sério. É fato que o site faz com que o usuário possa conhecer milhares de pessoas de maneira rápida, o que não seria possível de outra maneira. É fato também que o site viabiliza buscas com critérios que podem ser bastante específicos. Por exemplo, pode-se buscar um homem com idade entre 35 e 40 anos, que não seja fumante, não tenha filhos, seja moreno, de olhos azuis, que resida no Rio de Janeiro e deseje ter um relacionamento sério. Desta forma, temos meios para escolher alguém que tenha características bem definidas, o que dificilmente poderia acontecer através de outras maneiras. E é justamente aí que a confusão se dá. Encontrar alguém com um perfil exatamente igual ao que desejamos não faz com que automaticamente o relacionamento aconteça ou seja um sucesso. Isso porque as relações amorosas dependem de fatores mais amplos e subjetivos do que uma simples combinação de determinadas características. Existe a chamada “química”, que pode acontecer com alguém completamente diferente daquilo que imaginamos, assim como pode não ser sentida com aquela pessoa que teria tudo para combinar conosco. Gostar ou não de alguém é algo que nem sempre tem uma explicação racional, e às vezes sequer conseguimos entender o que nos atraiu ou deixou de nos atrair a alguém.

Penso que muitas pessoas fazem essa confusão e não percebem que as relações humanas não são baseadas em itens ou critérios exatos, mas fundam-se principalmente no que deixamos de ter consciência no dia-a-dia. Isso explica porque “de repente” aquele colega de trabalho ou aquela amiga de anos se torna alguém interessante e atraente. Explica também o porquê da paixão por uma pessoa que não era nem tão bonita, nem parecia combinar conosco. O cotidiano e a convivência fazem com que esse tipo de “surpresa” ocorra, o que nem sempre acontece no site. Se precisamos escolher atributos que desejamos no outro, é natural que utilizemos critérios objetivos (aparência física, gostos, intenções etc.), porém não podemos nos esquecer de que estes são apenas uma pequena parte da relação. Para que esta realmente se concretize, serão necessários muitos outros fatores.

Assim, se por um lado é possível ter contato com diversas pessoas em pouco tempo através do site, conhecê-las realmente será uma tarefa mais demorada e até mesmo mais trabalhosa, que dificilmente acontecerá em apenas um ou três meses. É preciso ter paciência, tolerar a frustração sentida naquele encontro em que o outro não era nada parecido com o que você imaginava, poder suportar rejeições, sumiços etc., sem que isso se transforme em ansiedade excessiva ou falta de esperança. Tanto uma como a outra provavelmente prejudicarão mais do que ajudarão. O excesso de ansiedade poderá fazer com que o próximo encontro seja alvo de muita expectativa e tensão, o que dificilmente passará despercebido pelo outro, que poderá se sentir cobrado ou pressionado. A falta de esperança poderá fazer com que você pareça amargurado ou cansado e acabe não se deixando parecer interessante ou desejável.

É claro que alguma expectativa sempre existirá, e será até mesmo necessária, pois mostra o quanto o encontro é desejado. Porém esta não deve ultrapassar certos níveis, sendo essencial que haja alguma tranquilidade. É importante lembrar que nenhum encontro é a “última esperança”, pois novas possibilidades surgirão enquanto houver o desejo de encontrar um grande amor.