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sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Sonolência, álcool, café e acidentes de trânsito.



Nos últimos cinco anos, importantes descobertas médicas têm levado à uma diminuição considerável na taxa de mortalidade nos EUA, especialmente entre a população jovem da América. Os acidentes em geral, são, por definição, imprevisíveis, portanto, difíceis de evitar. O acidente automobilístico é a terceira principal causa de morte e ferimentos nos EUA, com 40 a 50 mil pessoas mortas em aproximadamente 2 milhões de acidentes por ano. (US Bureau of the Census Statistical Abstract of United States : 1900. Washington, DC : US Dept. of Commerce, 1900 : 79, 606).

Os dois fatores mais reconhecidos como causa dos acidentes de trânsito são a velocidade e o álcool, entretanto, a desatenção, a fadiga e a sonolência são fatores considerados também como grandes contribuintes. Mais atenção tem sido focalizada nos últimos anos à relação entre sonolência e acidentes.

SONOLÊNCIA E ACIDENTES

Estudos mostram uma ligação muito forte entre distúrbios do sono e acidentes de veículos a motor. O papel da sonolência e dos distúrbios do sono parece estar subestimado em comparação às causas clássicas de acidente, como álcool e uso de drogas, que podem também estar associados à sonolência. De acordo com a última classificação internacional de sono, sonolência significa a dificuldade em manter um estado de alerta.

Está dividida em três graus de severidade:

1. Sonolência leve: Manifesta-se em estado de pausa ou repouso em tarefas que requerem pouca atenção.

2. Sonolência moderada: Pode comprometer a mais leve atividade física e tarefas que exijam um grau moderado de alerta, como, por exemplo, dirigir.

3. Sonolência severa: Manifesta-se diariamente, mesmo durante atividades físicas como comer e andar. O prejuízo para o relacionamento social e para o trabalho é considerável.

O sono tende a um ritmo circadiano tanto durante o dia como durante a noite. A tendência a dormir é muito grande entre 2h e 7h e um pouco menor entre 14h e 17h. A tendência a dormir é também aumentada pela privação e interrupção do sono. Os efeitos da perda de sono são cumulativos, a sonolência aumenta progressivamente com a diminuição das horas de sono.

Outros estudos têm demonstrado uma distribuição, também circadiana, da tendência a cometer erros durante as horas da noite. Um trabalho sueco (1) mostrou que ocorrem, num ciclo de 24 horas, dois picos onde a possibilidade de erro é máxima: Um deles, entre 2h e 4h, e outro, menos importante que o primeiro, entre 14h e 16h. A resposta reativa e a performance na direção estão, também consideravelmente diminuídas durante a noite. Com base nessas evidências fisiológicas, muitos estudos e observações vêm sendo desenvolvidos, para demonstrar o papel específico da sonolência nos acidentes de trabalho e de veículos a motor.

Aproximadamente, 80 milhões de americanos que têm sérios problemas de sono são ignorados, ou por que eles não relatam seus sintomas, ou por que os médicos não perguntam. Portanto, o tratamento das queixas do sono, como a apnéia, está comprometido devido a esse desinteresse (2, 3). Indivíduos com insônia crônica referem 2,5 vezes mais acidentes automobilísticos por fadiga, habilidade diminuída para concentrar-se, memória prejudicada, dificuldade para executar tarefas diárias e prejuízo no relacionamento social. Uma série de estudos epidemiológicos têm sugerido que o risco desta complicação de saúde pode ser reduzido significantemente através de diagnósticos mais efetivos e tratamento adequado.

Avaliar com mais precisão a importância do sono e seus distúrbios é uma tarefa mais crítica agora do que em qualquer outra época da história. A sofisticação industrial atual e a operação dos transportes requerem a manutenção de um estado de alerta que muitos trabalhadores são incapazes de manter. Considerando que as conseqüências de um erro cometido por um cocheiro de diligência há 150 anos, pôde equivaler a nada mais do que uma roda quebrada, hoje, um erro cometido por um motorista com privação de sono, pode resultar em perda de vidas e profundo sofrimento humano. Esses argumentos se tornaram um fator de pressão, após a constatação da grande ignorância que há sobre as conseqüências que a má qualidade e a privação do sono exercem sobre a saúde e a economia.

Em relatórios realizados pelo Comitê Nacional de Pesquisa sobre os distúrbios do sono, foi observado que o médico generalista desconhece os perigos que a sonolência e a apnéia do sono apresentam para a saúde e a e a segurança da comunidade.

Um sono inadequado ou insuficiente pode resultar em fadiga ou prejuízo para a vigilância e habilidade cognitiva, reduzindo a produtividade no trabalho, aumentando a oportunidade de erro humano e acidentes relacionados à fadiga. Clinicamente, a síndrome da apnéia do sono é o distúrbio mais comum associado à sonolência diurna excessiva. Porém, nem toda sonolência diurna, é produzida por doenças. As causas podem variar desde uma noite de sono inadequado, uma mudança no horário de trabalho ou ingestão de medicamentos que produzam sonolência. Uma porcentagem dos que se queixam de cansaço está sofrendo de uma exaustão mais geral, subordinada, em muitos casos, a um estado depressivo. De maneira geral, as causas mais comuns de cansaço são os distúrbios do sono noturno, que têm como fatores desencadeantes o ato de roncar (que em muitos casos também envolve uma respiração irregular com pausas respiratórias durante o sono), a ansiedade e a tensão.

O cansaço pode tomar forma de sonolência franca, com tendência ao adormecer. Por outro lado, pode significar um estado de exaustão. Ambos os casos envolvem prejuízo à vida produtiva e à comunicação social. A sonolência, entretanto, é considerada a forma mais perigosa, por apresentar risco de acidentes, especialmente de tráfego, ou em outras situações que exijam um estado de alerta permanente. Portanto, o cansaço leva para, ou torna possível, o acidente de tráfego, sendo um fator de significativa importância. Quase metade dos que mencionam envolvimento com acidentes em conseqüência do cansaço, relataram fadiga muitos dias na semana, ou roncaram durante toda a noite.

Na emissão de carteiras para motoristas, uma atenção maior precisa ser dispensada à qualidade do sono do motorista, porque nas Clínicas de Sono americanas, uma grande porcentagem dos pacientes, sofre especificamente de sonolência diurna. Quase a metade deles já esteve envolvida em acidentes de trânsito e a outra metade já teve acidentes de trabalho. Embora nenhum grupo esteja isento de problemas de sono, os trabalhadores noturnos estão particularmente expostos, com possibilidade de adormecer no trabalho duas a cinco vezes maior. Cerca de 20% da força de trabalho americana é composta por trabalhadores noturnos, que estão empregados em indústrias operacionais ou técnicas, transporte e serviços de saúde e emergência. Fadiga no trabalho e sonolência em trabalhadores noturnos podem, conseqüentemente, ter resultados devastadores: Em 1988, uma colisão de trens de carga da C.R. Corporation, resultou em fatalidade e mais de 6 milhões de dólares em danos estruturais e a trágica explosão do ônibus espacial Challenger, são mais dois exemplos. Portanto, a perda e os distúrbios do sono desempenham um papel importante dentro das causas do acidente de tráfego.

Mesmo pessoas com sono normal, que têm insônia ocasionalmente ou vêm tendo privação temporária de sono, podem apresentar o mesmo grau de fadiga que as pessoas com distúrbios crônicos de sono e, portanto, ter um risco de acidente similar. A segurança dos motoristas com privação de sono parece ser mais colocada em risco através do uso do etanol. Estudos indicam que, mesmo o consumo moderado de etanol, pode aumentar incrivelmente a fadiga de indivíduos que tiveram uma noite de sono inadequada.

O Departamento de Transportes americano realizou pesquisas em várias cidades sobre a sonolência no transporte. De acordo com essas pesquisas, motoristas sem distúrbios do sono apresentam uma taxa menor que 20% de episódios de sonolência, enquanto dirigem. A pesquisa também indicou que os acidentes de veículo a motor estão diretamente relacionados com sonolência em 1% a 10% dos casos.

Outro estudo interessante feito pela Administração Nacional de Segurança no Transporte pelas Auto-Estradas (1995), através da análise de arquivo de 3,1 milhões de batidas em cinco estados, detectou que:

• 1,4% das batidas e 1,75% dos acidentes fatais com veículos a motor estavam relacionados com sonolência;

• 76% dos acidentes relacionados com sonolência foram batidas envolvendo um só veículo.

Em outra pesquisa realizada pela mesma instituição, ficou demonstrado que 4% dos 6,6 milhões de erros cometidos no ato de dirigir, podem estar relacionados com a sonolência e a falta de atenção. Estes dados, no entanto parecem estar subestimados e a sonolência, provavelmente, não ser referida por muitas razões.

A fadiga não é freqüentemente pesquisada entre as pessoas acidentadas. Muitas vezes as pessoas envolvidas não querem informar, oficialmente, ou mesmo a seus amigos e familiares, que dormiram na direção, porque isso implicaria em admitir a sua responsabilidade sobre o acidente. Às vezes os motoristas não querem admitir a si mesmos, que dormiram na direção. Portanto, a sonolência é freqüentemente ignorada como causa, por ser o acidente atribuído ao uso do álcool, drogas ou, mau tempo, que são fatores facilmente constatáveis, não acontecendo o mesmo com a fadiga, que é de difícil determinação. Outro fato é que um grande número de americanos não sabe que sofre de um distúrbio do sono e, para eles, é mais difícil admitir que dormiram na direção.

Quando se pergunta às pessoas portadoras de distúrbios do sono sobre acidentes e direção, suas respostas indicam que adormeceram enquanto dirigiam, numa freqüência de 30% a 93%, dependendo da patologia:

• Pacientes com apnéia do sono: A taxa variou de 31% a 93%

• Pacientes com narcolepsia: 25%

• 24% dos pacientes que dormiram várias vezes enquanto dirigiam, o fizeram pelo menos uma vez por semana

Estatísticas da Clínica Stantford mostram que:

• 15% a 45% dos pacientes com apnéia do sono;

• 12% a 30% dos pacientes com narcolepsia;

• 2% a 8% dos pacientes com insônia,

referiram pelo menos um acidente relacionado com sonolência. Estes pacientes sabiam que tinham problemas e não hesitariam em referir seus acidentes.

ACIDENTES DE VEÍCULOS A MOTOR E SONOLÊNCIA

• 54% das mortes em acidentes de veículos a motor aconteceram à noite.

• 36,1% dos acidentes fatais e 41,6% do total de acidentes aconteceram das 2h às 7h e das 14h às 17h, horários em que a sonolência é maior.

Estes dados confirmam que dos acidentes de veículos a motor, que aconteceram à noite, muitos estão relacionados com a sonolência. A maioria dos acidentes noturnos envolvem um só veículo e nesses, a falta de atenção e o cansaço podem ser a causa.

Para resumir, uma porcentagem estimada do total de acidentes e dos acidentes fatais relacionados com sonolência, é indicada pelo Car-File Study (Transportation Related Sleep Research. Car-File Study. Departament of Trasportation, 1985). Essa pesquisa é a mais completa até o presente e seus resultados mostram que:

• 1,4% do total de acidentes

• 1,75% das fatalidades,

estão diretamente relacionadas com a sonolência.

ACIDENTES DE TRABALHO

• 47,5% dos acidentes de trabalho foram causados por sufocamento, eletrocução, fogo e acontecimentos similares, não estando diretamente relacionados com sonolência.

• 52,5% restantes estão diretamente relacionados com sonolência:

- 35% envolvem acidentes de veículos a motor

- 12,6% : Queda

- 4,8%: água e acidentes com transporte aéreo.

MUDANÇAS NO HORÁRIO DE TRABALHO

Aproximadamente 25% dos trabalhadores americanos trabalham com mudanças periódicas no horário de trabalho e 6% são trabalhadores noturnos. Os três departamentos, que empregam grande número desse tipo de trabalhador, são saúde, processamento de dados e transporte industrial. Estudos mostram que a sonolência aumenta muito durante a mudança no turno de trabalho e atinge o pico máximo na segunda metade da noite. É muito comum, trabalhadores noturnos adormecerem durante a noite. Os sintomas que antecedem esses episódios de sono são a sonolência, a fadiga e o esforço para ficar acordado. Os sintomas se intensificam durante o correr da noite e são freqüentemente seguidos pelo cochilo inevitável.

Esta sonolência está presente em:

• 75% a 90% dos trabalhadores noturnos;

• 0,3% a 6% dos trabalhadores diurnos.

Distúrbios crônicos do sono afetam 60% a 80% de todos os indivíduos que trabalham com mudanças no turno de trabalho. Está provado que um grande número desses trabalhadores adormecem durante a noite da troca. Também apresentam muitos problemas de saúde e duas vezes mais acidentes automobilísticos do que os indivíduos que não trabalham com mudanças de turno. Há também a possibilidade, duas vezes maior de serem viciados em drogas ou álcool.

ACIDENTES DE VEÍCULOS A MOTOR

DURANTE A JORNADA DE TRABALHO(1988)

Cerca de 47 900 mortes e 4,6 milhões de ferimentos incapacitantes representam 35% desse tipo de acidente.

TOTAL ESTIMADO DOS CUSTOS DOS ACIDENTES RELACIONADOS À SONOLÊNCIA (1988)

- 1° estimativa: 1 907 072 ferimentos incapacitantes

24 318 mortes

custo de 43,15 bilhões de dólares

- 2° estimativa: 2 474 430 ferimentos incapacitantes

custo de 56,02 bilhões de dólares

CONCLUSÃO

A sofisticação da indústria atual, a operação dos meios de transporte e o grande número de veículos circulantes exigem que o homem se mantenha em constante estado de alerta. O acidente de trânsito é uma das principais causa de morte no mundo atual, principalmente na faixa etária dos 15 aos 40 anos, atingindo, portanto, a população jovem e economicamente ativa, que é retirada do mercado no seu pico de produtividade, interferindo assim, drasticamente, sobre a economia, já que o custo para a nação, dos acidentados com ferimentos incapacitantes, é alto.

A sonolência, a desatenção e a fadiga passaram a funcionar, junto com o álcool, as drogas e as condições perigosas de direção, como fatores que também predispõem ao acidente de trânsito.

Pesquisar a qualidade do sono ainda não faz parte da anamnese do médico generalista e da rotina das clínicas para licenciamento de motoristas, porque os distúrbios do sono, ainda são desconhecidos pela maioria dos médicos.

Por outro lado, o público também não avalia a influência que a sonolência e a fadiga extrema exercem sobre o ato de dirigir. A sonolência compromete em vários graus as funções cognitivas, a memória, a concentração e, principalmente, o estado de alerta, implicando em riscos de acidentes, principalmente de tráfego e diminuição do desempenho em situações que exijam um estado de alerta permanente.

As causas que, mais comumente, podem determinar sonolência diurna variam desde uma noite de sono inadequada, mudanças no horário de trabalho, ingestão de medicamentos que produzem sonolência, ansiedade e tensão, até distúrbios mais importantes como a insônia e a apnéia do sono. Outro fator desconhecido pelo público é, que mesmo o uso moderado de álcool pode aumentar incrivelmente a fadiga de indivíduos que estejam privados de sono.

Pesquisas recentes mostram que 1,4% do total de acidentes e 1,75% das fatalidades estão diretamente relacionadas com a sonolência. Portanto, o diagnóstico dos distúrbios do sono deve ser mais preciso e mais freqüente. O público deve ser informado e educado sobre o perigo da sonolência na direção veicular e os especialistas em Medicina de Tráfego, em conjunto com outros especialistas em sono, estão desafiados a desenvolver métodos que ajudem no reconhecimento da sonolência e na orientação desses pacientes.

ALCOOLEMIA E DIREÇÃO VEICULAR SEGURA: TOME CAFÉ

Um artigo recomendado para todo o médico foi publicado na Revista da AMB por membros da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego. O álcool é uma substância psicoativa que pode alterar percepções e comportamentos, aumenta a agressividade e diminui a atenção. Estima-se que no mundo dois bilhões de pessoas sejam consumidoras de bebidas alcoólicas e já é de consenso que o uso de álcool está relacionado com vários tipos de violência, incluindo os acidentes de trânsito. O Código de Trânsito Brasileiro vigente estabelece como limite para criminalização do ato de beber e dirigir a concentração de álcool no sangue (alcoolemia) igual ou superior a 0,6 g/l. Motoristas que estiverem dirigindo com essa concentração estão impedidos de conduzir veículo automotor. Essa Lei é pouco conhecida pela população e apenas 13% a 22% dos condutores souberam responder de forma correta o limite legal. Uma dose (uma lata de cerveja, uma taça de vinho ou meio copo de uísque) corresponde a aproximadamente 12 g de álcool. Um adulto médio (homem, 70 kg ou mulher de 62 kg, em bom estado de saúde), consumindo duas doses, atingirá uma alcoolemia de 0,3-0,5 g/l. O segundo levantamento domiciliar sobre o consumo de drogas psicotrópicas do CEBRID indica que 74,6% da população brasileira consumiram álcool durante sua vida, 12,3% são dependentes e 7,3% se envolveram em situações de risco físico. Todas essas porcentagens foram maiores para o sexo masculino do que para o feminino, se analisados em separado. Os acidentes de trânsito são a décima causa de todas as mortes e a nona causa de morbidade em todo o mundo, vitimando fatalmente 1,2 milhões de pessoas todo ano, e ferindo de 20 a 50 milhões. A América Latina apresenta um panorama ainda mais preocupante, por ter as maiores taxas de fatalidades no trânsito de todas as regiões do mundo, 26,1 mortes para cada 100 mil habitantes, o dobro da média mundial. O Brasil tem uma taxa de 6,3 acidentes para cada 10 mil veículos registrados. Estudos sobre a associação de álcool e acidentes de trânsito são numerosos na literatura; no entanto, o Brasil, apesar de apresentar uma alta taxa de acidentes, tem poucos, mas valiosos, estudos. Estudo realizado em sala de emergência de São Paulo mostrou que 28,9% das vítimas de trauma atendidas apresentaram alcoolemia positiva. Valores variam de 19,8%, para condutores numa amostra geral que conduzem acima do limite legal, a 47%, em vítimas fatais de acidentes de trânsito. O Código de Trânsito Brasileiro acarretou em uma redução de 20% nos traumas em ocupantes de veículos, e 9% nos condutores de motocicletas, mas a diminuição de condutores alcoolizados só ocorreu neste último grupo. Estima-se que os custos anuais dos acidentes de trânsito nos Estados Unidos somaram US$ 230,6 bilhões no ano de 2000, com 41.821 mortes, 5,3 milhões de feridos e 28 milhões de veículos danificados, sendo que o álcool responde por 46% dos custos decorrentes de mortes. Campanhas de prevenção e de fiscalização do motorista embriagado resultam em uma economia de seis dólares para cada dólar investido.No Brasil, dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) mostram que o custo total dos acidentes em aglomerados urbanos chega a 5,3 bilhões de reais. Custos de ferimentos no trânsito respondem por um quarto de todos os custos com empregados para as empresas americanas. No entanto, o estabelecimento de um limite de alcoolemia, mesmo que baseado em evidências, não é suficiente para coibir todos os acidentes relacionados ao álcool, especialmente se considerarmos os indivíduos que podem estar alterados com concentrações abaixo do limite legal, e que sofrem acidentes fatais. Isso foi demonstrado pela National Highway Traffic Safety Agency (NHTSA) dos Estados Unidos, que relatou que 13% dos condutores alcoolizados que morreram em acidentes estavam com alcoolemia positiva, porém abaixo do limite máximo permitido. No Brasil, estudo recente mostrou que 38% dos condutores dirigiam, naquele momento, sob efeito do álcool, sendo que 18% com valores de alcoolemia inferiores ao estabelecido por lei. Um dado alarmante é que 22,9% dos condutores acreditavam que a bebida não influenciava negativamente sua capacidade de dirigir, sobretudo se adotam medidas tidas como protetoras, como tomar café e dirigir com mais cautela.

CAFÉ E MOTORISTAS

Dirigir com sono causa mais mortes e ferimentos graves do que dirigir alcoolizado. Um modo de combater de forma segura a sonolência, em particular quando o motorista já está tendo que lutar contra o sono consiste em PARAR de dirigir, TOMAR uma ou duas xícaras de café (mais ou menos 150 mg de cafeína no total) e cochilar ou DORMIR uns 15 minutos. Nas zonas urbanas, onde o motorista sonolento está cercado de coisas para ver e fazer, o número de acidentes graves pode ser pequeno. Em trechos longos e monótonos das estradas principais, que pouco exigem do motorista, a situação piora muito. Não há problemas quando estamos alerta, mas quando dirigimos quando normalmente estaríamos dormindo ou quando estamos muitos cansados, o risco de uma colisão aumenta significativamente.

Pesquisas do Ministério dos Transportes do Reino Unido sugerem que, em cada 10 colisões, uma ocorre quando os motoristas cochilam ao volante – ou seja, duas vezes mais do que os acidentes causados por excesso de velocidade. Há mais probabilidade de mortes e ferimentos graves nessas colisões porque motoristas com sono não costumam desviar ou frear antes do impacto . Na Nova Zelândia, entre 2002 e 2004, o cansaço dos motoristas foi identificado como fator que contribuiu para 134 acidentes com mortos e 1.703 colisões com feridos (cerca de 11 por cento dos acidentes com mortos e seis por cento das colisões com feridos por ano). Na Austrália, as estatísticas referentes à rede rodoviária indicam que o cansaço responde por até 30 por cento das colisões envolvendo um único veículo nas zonas rurais . Os dados obtidos num estudo italiano são análogos (morte do motorista em 11,4% dos acidentes relacionados com o sono, contra 5,5% nos acidentes em geral).

As estradas são usadas como parte do trabalho de muitas pessoas. Por isso, não surpreende que tantos acidentes rodoviários envolvam veículos de trabalho. No Reino Unido, o número de acidentes fatais com caminhões é quase o dobro dos acidentes com carros. Nos Estados Unidos, o Departamento dos Transportes considera que todos os caminhões do país poderão estar envolvidos em pelo menos uma colisão relacionada com o sono durante sua vida útil e que o cansaço dos motoristas provavelmente contribui para 20 a 40% das colisões de caminhões. O trabalho noturno também torna vulneráveis motoristas como, por exemplo, médicos de plantão ou trabalhadores voltando para casa depois de turnos noturnos. O pior período é das 2 às 6 da manhã. É 20 vezes mais provável que o motorista adormeça ao volante por volta das 6 da manhã do que por volta das 10 . Estudos sugerem que a juventude é um importante fator de risco no que diz respeito aos acidentes relacionados com o sono (cerca da metade dos motoristas tem menos de 30-35 anos). Os motoristas mais idosos e os que dirigem depois de um almoço reforçado também são vulneráveis à sonolência no meio da tarde. Por volta das 4 da tarde, a probabilidade de adormecer ao volante é três vezes maior do que às 10 da manhã ou às 7 da noite, quando o ritmo circadiano de nossa sonolência é menos intenso .

Para os motoristas, o risco de acidentes também aumenta com o começo de uma longa viagem no último dia de trabalho antes das férias, ou com a necessidade de levantar muito mais cedo do que de costume para iniciar uma longa viagem, em que o potencial de cansaço é maior. As férias são outra época de riscos. Freqüentemente, as viagens significam longas horas ao volante, muitas vezes com calor e no clarão do sol, depois de dormir menos do que de costume. Também é comum dirigir depois de uma longa viagem aérea até o local das férias – e isso tudo, combinado, pode ser letal. No entanto, somos todos muito vulneráveis à sonolência depois de dormir pouco ou mal. O cansaço pode facilmente afetar nossa capacidade de dirigir e nosso discernimento, e se isso acontece numa zona urbana, o perigo pode ser considerável. Mesmo nas melhores ocasiões, dirigir pode ser uma experiência que cansa e frustra. Se, além disso, a estrada for muito movimentada e o calor estiver sufocante, a paciência do motorista pode se esgotar muito depressa, e ele pode deixar de notar os sinais de cansaço. O sono não ocorre por si mesmo, e não há desculpas para pegar no sono ao volante. No entanto, a maioria dos motoristas que causam acidentes relacionados com o sono costuma negar que adormeceu. Isto não surpreende, pois é preciso dormir dois a quatro minutos antes que qualquer lembrança do sono seja possível, e a maior parte dos acidentes acontece quando um motorista só dormiu alguns segundos . Porém uma soneca de não mais do que quatro segundos pode ter conseqüências fatais. Nesse breve espaço de tempo, um carro a uma velocidade de 88 km por hora percorre mais de 30 metros – o comprimento de uma quadra de tênis.

A noção de que se deve cantar ou ouvir música para se manter alerta e combater o cansaço infelizmente não passa de um mito popular. Cantar ou ouvir música só ajudam no começo e podem impedir o motorista de perceber que está com sono e guiando mal. Da mesma forma, as vantagens do ar frio no rosto também são um mito . O motorista costuma tomar essas providências quando já está tendo que combater o sono. Neste ponto, o que é seguro fazer é parar de dirigir o quanto antes, descansar no mínimo 30 minutos, tomar algumas xícaras de café cafeinado e cochilar alguns minutos.

Muitas pesquisas vêm sendo feitas em busca da maneira mais viável de mitigar a sonolência dos motoristas. Alguns estudos de laboratório mostram que doses relativamente pequenas de cafeína, de 100 a 200 mg, melhoram de forma significativa a vigilância das pessoas observadas em estado de sonolência. Em outros estudos de laboratório foram comparados diversos fatores que, segundo se julga, têm influência. Esses fatores incluem diferentes fases das paradas para descanso nas estradas, níveis variados de ingestão de cafeína e em diversas alturas do dia, e diversos graus de privação do sono. Constatou-se que tanto a cafeína como a possibilidade de tirar um cochilo reduzem significativamente o número de incidentes rodoviários grandes e pequenos e têm o poderoso efeito de suprimir o sono e os sinais de sonolência. A combinação mais eficaz é, durante uma parada de 30 minutos, tomar uma ou duas xícaras de café, que lhe fornecem cerca de 150 mg de cafeína, e então cochilar por mais ou menos 15 minutos. Dirigir com sono não é ilegal, mas é tão perigoso quanto dirigir alcoolizado, se não for mais perigoso. A sensação de sono ao dirigir significa que você está correndo maior risco de bater. Pare, descanse e abra os olhos para a necessidade de dirigir com mais segurança.

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