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sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Ciência, Filosofia e Religião 1. Introdução


1. Introdução

A moderna medicina baseia-se na racionalidade científica. Por isso muitas vezes o médico encontra dificuldade em avaliar e entender as reações emocionais de seu paciente, particularmente na esfera espiritual e sexual - duas coisas básicas na vida de cada ser humano. Enquanto para o médico cirurgião a hérnia inguinal, a mastectomia, a cardiopatia congênita ou a varicocele num adulto representam um problema técnico para resolver, ao mesmo tempo que um paciente em coma, com doença desmielinizante ou com febre de origem desconhecida representa um desafio à astúcia e conhecimento do clínico e do especialista, para o paciente e seus familiares aquilo pode representar não apenas risco de morte, mas também ameaça ao equilíbrio emocional e financeiro da família e um temor à sua segurança e autoconfiança. O médico moderno recebe um treinamento exagerado em termos racionais e tecnológicos, desenvolvendo muito pouco o aspecto emocional, afetivo. Isso decorre não apenas da grande competição, para a qual o médico quer saber tudo ou quase tudo de medicina - mas muito pouco da vida e da alma humana -, mas também da excessiva especialização.

Em sua luta pelo sucesso profissional, o médico passa a conviver diariamente apenas com problemas angustiantes, como a doença, o sofrimento, a solidão, a frustração, a depressão e a morte de seus pacientes. Por isso o suicídio é a principal causa de morte entre médicos com menos de 40 anos de idade nos países modernos. O suicídio faz parte integral da psicologia humana e existem poucas pessoas felizes e realizadas o suficiente que nunca pensaram em suicídio. A maior parte da humanidade já pensou e pensa periodicamente na possibilidade de suicídio como um recurso, mesmo que final, para a solução e fuga de todos seus problemas, mas sem concretizar o desejo. Pensamentos passageiros a respeito da morte são universais e os pensamentos de autodestruição fazem parte da rotina diária de cada ser humano. Trata-se apenas de uma reação de ansiedade intensa, devido a problemas na vida familiar, social e profissional que causam angústia e depressão de forma temporária. A maioria das pessoas que se suicidam ou têm impulso suicida consultam antes um médico, um pastor ou procuraram alguma forma de ajuda, sendo que apenas um terço procura um psiquiatra. A desesperança é o aspecto da depressão que apresenta maior correlação com a conduta suicida. Aspectos demográficos como idade, alcoolismo e vida solitária também influem favoravelmente para o suicídio. A faixa etária com maior incidência de suicídio no homem é em torno dos 80 anos e, na mulher, entre 55 e 65 anos. Mas o fato de que o suicídio representa a principal causa de morte entre jovens médicos abaixo de 40 anos serve para chamar a atenção para um aspecto importante para programas de residência, pós-graduação e escolas médicas. Nenhuma escola médica, programa de residência médica ou curso de pós-graduação inclui o suporte psicológico a seus alunos, embora elaborem excelentes programas de treinamento para salvar a vida alheia.

O médico jovem é submetido a situações de angústia e tensão que exigem orientação psicológica permanente em seu local de treinamento, pois ele trabalha em ambientes desde o completo abandono e falta de supervisão até ambientes estressantes e sobrecarregados de responsabilidade. Geralmente o jovem médico convive com grandes mestres que sabem, mostram e falam muito mas dialogam pouco. E isso cria motivação para estudar e saber cada vez mais mas em meio à angústia, frustração e depressão dos pacientes e do próprio jovem médico. Este convive com a morte, uma lembrança constante de que o médico não é onipotente e infalível, e com o sofrimento dos paciente crônicos internados, muitos sós e abandonados pelos seus familiares, os quais significam apenas leitos ocupados que precisam ser liberados.

O médico moderno está se tornando um ultra-especialista nas grandes cidades e um ultra-sobrecarregado nas pequenas cidades do interior. Nos grandes centros o médico atua com imensos conhecimentos e poderes sobre a vida humana, contrariando até mesmo a natureza, sendo capaz de tornar férteis mulheres estéreis e de idade avançada, da mesma forma que Deus fez com Isabel, mulher de Zacarias, ambos idosos: ”Não tenhas medo, Zacarias, porque a tua súplica foi ouvida, e Isabel, tua mulher, vai te dar um filho, no qual porás o nome de João” (Lucas 1:13). Transplantes de órgãos como o coração permitem nova vida a pessoas destinadas à morte, que recebem uma nova chance, como a filha de Jairo: “Retirai-vos todos daqui, porque a menina não morreu: está dormindo. E riram-se dele. Mas assim que a multidão foi removida, tomou-a pela mão e ela se levantou...” (Mateus 9: 24-25). Ciente de seu poder, o médico atual consegue aplicar em benefício de seu paciente verdadeiros milagres da ciência e, muitas vezes, assume um papel de superioridade e onipotência e se distancia de seu paciente e de seus sentimentos mais fortes, como a religiosidade. Esse imenso conhecimento torna o médico excessivamente vaidoso e obscurece a sua humildade: “Vaidade das vaidades, tudo é vaidade “(Eclesiastes 1:2).

Confuso, pressionado, angustiado e oprimido pelo fenomenal avanço da ciência moderna, o médico muitas vezes esquece algo fundamental para sua formação e para seu exercício profissional. Uma força desconhecida de que o paciente pode dispor para a cura de problemas emocionais e muitas vezes físicos, orgânicos. Algo que possui um poder imenso e incompreensível para a moderna ciência médica. Algo que pode ter a força para curar de forma mais poderosa que todos os medicamentos conhecidos e de diagnosticar de forma mais precisa que todos os equipamentos disponíveis. Algo que jamais prejudicará o médico ou o paciente. Algo que, apesar de ser do maior valor, é acessível pelo menor dos preços. A fé. A religião aliada à ciência formam uma associação perfeita e harmoniosa para todo e qualquer médico e todo e qualquer paciente. Infelizmente o médico moderno, sobrecarregado e atarefado, parece estar esquecendo este algo - a religião - que pode vir a ser o fator mais importante na sua luta pela vida, saúde e felicidade do ser humano.

Na atualidade, além dos recursos da ciência médica, a grande maioria dos pacientes busca sempre orientação religiosa quando adoece ou mesmo apresenta problemas comuns como depressão, angústia ou simples insegurança. Por isso proliferam Igrejas, curandeiros e místicos que conseguem ajudar psicologicamente um grande número de pessoas. E dentre padres, pastores, bispos, curandeiros e milagreiros, existem pessoas sérias e bem–intencionadas, mas também oportunistas, cujo único deus é o dinheiro. Muitos deles criam grande competição com a medicina convencional, através da medicina espiritual. Para a grande maioria dos médicos e escolas médicas, a religião é um tema completamente ignorado e muito menos estudado. Um grande número de médicos apenas entra em contato, mas sem diálogos, com um religioso (padre, pastor) apenas na missa de Natal celebrada anualmente no seu hospital ou na extrema unção de seus pacientes. Mas qual a melhor palavra que pode ser proferida numa hora de extrema alegria, quando conhecemos a felicidade? E qual o melhor apoio num momento de imensa angústia e desespero, quando a vida parece não ter mais sentido? Que palavra de conforto pode servir para um homem rico, poderoso e famoso quando souber da morte de um filho devido a dosagem excessiva de drogas? Qual a última palavra para um paciente moribundo no seu leito de morte? E de uma mãe ao dar o último adeus a um jovem filho aidético? Que palavra pode um médico dizer ao salvar uma vida? Que palavra de felicidade pode uma mãe, que era até então considerada estéril, dar ao ver nascer um bebê belo e saudável, fruto de inseminação artificial? Que palavra de gratidão pode ser dita aos pais de um jovem que morreu num acidente de carro e cuja doação do coração permitiu que outro continuasse a viver devido a um transplante cardíaco? Que palavra de consolo pode um médico dar aos pais de uma criança de três anos, pura e inocente, vítima de um tumor maligno incurável no cérebro, que limitará a vida da criança a poucos meses? Que palavra pode um médico usar ao detectar um câncer já disseminado e incurável num homem jovem, pai de uma bela e numerosa família, que depende totalmente de seu trabalho e amor paternal para continuar vivendo? Será que um milagre da ciência equivale a um milagre divino? Qual o médico capaz de realizar milagres? Ou apenas pastores, padres, santos e curandeiros são capazes disso? Qual a melhor Igreja para se conseguir milagres? Ou será que muitas igrejas combatem o diabo não porque ele é mau, imoral ou perverso, mas sim porque ele rende dinheiro? Caso procurássemos em todas as línguas do mundo ou em todos os milhões de livros publicados, certamente chegaríamos a uma única e reveladora resposta: a de que existe algo e alguém infinitamente superior ao ser humano que traz ajuda, conforto e paz tanto nas horas mais difíceis como nas horas de felicidade, mostrando que o maior dos poderes está na mais simples das verdades: a fé. A ciência dá ao homem conhecimento, enquanto a religião, pela fé, dá sabedoria e paz. Apesar dos milagres da medicina moderna, capaz de tornar férteis mulheres estéreis, de transplantar órgãos e mesmo de vencer a morte, de congelar o ser humano para o futuro, essa mesma medicina ainda é incapaz de curar um simples resfriado ou de trazer paz nas horas mais difíceis. A busca da felicidade exige saúde física, mental e espiritual, algo que somente a medicina não consegue trazer. Poucas são as pessoas que possuem paz e harmonia interior de forma permanente. Ninguém é forte e feliz para sempre. A fraqueza e a angústia existencial fazem parte da natureza humana. Geralmente a religião é o primeiro recurso para alguns e o último para outros, mas sempre é o principal recurso para todos.

O médico moderno recebe pouco treinamento sobre valores espirituais, os quais coloca sempre em segundo plano - ou sequer dá atenção à sua existência. Mas a maioria, senão a totalidade de seus pacientes acredita em Deus e na força curadora da fé e dos milagres. Médicos que curam, pacientes que sofrem, parentes que oram e pessoas com saúde que queiram preservá-la, podem encontrar, por meio do conhecimento da Bíblia, um manancial inesgotável que ajuda a ampliar o conhecimento e a força para preservar a saúde e lutar contra o sofrimento e as doenças do ser humano. E a saber confiar no conforto e na paz obtidas pela fé, verdadeiros milagres de Deus, quando a medicina já frustrou médico e paciente. O maior dos milagres é o mais simples e mais comum e ocorre a cada dia: o milagre da vida. E para se obter um milagre extraordinário, como a cura de alguém desenganado ou a força para prosseguir e vencer, o importante não é entender, mas acreditar. Acreditar em si mesmo e na sua capacidade. A moderna medicina já realiza pesquisas científicas sobre o papel da fé na cura de doenças e recuperação de pacientes. Ensaios clínicos controlados já comprovaram o poder benéfico da fé sobre a recuperação de pacientes hospitalizados. Mas um grande número de médicos ainda permanece cético sobre o papel dessa emoção ou força pouco estudada pela ciência médica. Um provérbio medieval afirma que “onde há três médicos, há dois ateus“. A fé e a crença em Deus são um tema mais importante e mais antigo que o próprio conhecimento médico. Muito antes que a majestosa civilização grega da época de Hipócrates, o “Pai da medicina“, existisse, os hebreus, em torno de 1.800 a.C., chefiados por Abraão, o “Pai dos que crêem“, se estabeleceram no deserto da Arábia. Abraão foi escolhido por Deus para se converter no pai de uma nova nação espiritual. Os hebreus eram homens que vieram do outro lado do rio Eufrates. O ancestral dos hebreus é Eber, um descendente de Sem, pai de todos os hebreus, e o nome patronímico de Eber foi aplicado a todos os seus descendentes, inclusive os israelitas: ”..A Sem, irmão mais velho de Jafé, nasceram filhos; ele foi o pai de todos os filhos de Eber.“ (Gênesis 10 : 21). Os hebreus, como os egípcios, tiveram imensa importância para o mundo moderno. Deram grande parte do substrato da religião cristã, como os mandamentos, as histórias da criação e do dilúvio, o conceito de Deus como legislador e juiz e ainda mais de dois terços de sua Bíblia.

No início da Era Cristã a prática da medicina em Roma e nas grandes cidades da época era feita quase que exclusivamente por médicos gregos. Adicionalmente eram numerosos os charlatães que prescreviam ervas, amuletos ou encantamentos. Isto favorecia o sucesso de nomes como Asclepíades de Bitinia e Clauríssimus ou simplesmenteGaleno, dentre muitos outros. Na Roma Antiga a medicina era considerada uma profissão indigna para um cidadão romano. A idéia de um romano vestindo uma toga e trabalhando em pequenos locais prescrevendo óleos e poções para gladiadores, efetuando sangrias em escravos e tratando problemas de amor entre mulheres suspeitas - prática freqüente entre os médicos gregos - era pouco aceita. Por isso, os médicos gregos vieram a Roma e conseguiram o apoio de cidadãos eminentes, nobres e cônsules. Muitos deles tornaram-se ricos e famosos. Mas a medicina moderna teve sua origem a partir de duas importantes fontes de influência: os ideais gregos representados na pessoa de Hipócrates (460-370 a.C.), o pai da medicina, e os ensinamentos bíblicos de amor entre os homens, que determinou um profundo respeito ao ser humano por parte do médico: “... mas amarás ao próximo como a ti mesmo... “(Levíticos 19:18) e “Amarás ao Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma, de todas as tuas forças e de todo teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo (Lucas 10: 27). Por isso o médico deve incluir em seu aprendizado, além dos avanços da moderna medicina, aspectos de sua história e no mínimo noções sobre outra força grande, poderosa e pouco estudada, a força da fé.

Este tema foi incluído pelo convívio com muitos pacientes terminais, com câncer disseminado ou AIDS/SIDA, que optaram por se recolher em suas residências, sem queixas ou sintomas e, com grande paz e tranqüilidade, aguardavam a morte enquanto liam a Bíblia sempre que podiam e oravam pelo menos três vezes por dia - manhã, tarde e noite. Ao perguntar a um dos pacientes com câncer terminal porque orava e em que isso o ajudava na cura de sua doença, ele respondeu : “Não me ajuda em nada, doutor, eu sei disso. Apenas serve para me mostrar que onde estou e seja lá para onde vou, não estou e não estarei só.“ O médico precisa também conhecer outras fontes de conforto, paz, segurança e motivação, além do fabuloso conhecimento médico-científico.
2. Ciência, Filosofia e Religião

O pensamento humano pode ser expressar por uma de três formas fundamentais: o raciocínio científico, o filosófico e o religioso. Geralmente uma pessoa dedicada a uma dessas formas ignora as demais, tornando seu raciocínio dentro de uma linha de exclusividade ou para a ciência, ou para a filosofia, ou para a religião. Raramente são feitas especulações científicas da religião, embora freqüentemente sejam feitas abordagens filosóficas da ciência e da religião. A grande evolução do conhecimento científico a partir do século XIX, contrastando com o domínio estático da religião sobre a maior parte da humanidade, começou a criar uma distância progressiva entre a ciência e a religião. Na fé em Deus, os homens sempre indagaram de alguma forma a si mesmos, com uma liberdade responsável perante si mesmos, com uma razão crítica. A religião é anterior à filosofia, a qual criou a reflexão sobre a maneira do ser humano e a sua essência. A religião, a ciência e a filosofia têm um objetivo comum que é o da busca da verdade. Destas apenas a religião não exprime a verdade sob a forma de conceitos, mas sim sob a forma da representação e do sentimento de fé.

A filosofia moderna ocidental possui uma profunda influência do cristianismo, em particular pelo catolicismo. Desde a Grécia Antiga até o Renascimento, a filosofia vivia sob profunda influência da religião, quando o Renascimento e o Humanismo mudaram definitivamente a concepção arraigada no mundo feudal. Foi criado um novo método de investigação e conhecimento baseado na razão e na experimentação científica. As autoridades monárquicas e religiosas que organizavam, orientavam e controlavam a vida social, política e intelectual do homem medieval começaram a ser questionadas. A Igreja Católica, já abalada com o cisma Oriente-Ocidente (1054), sofreu uma nova ameaça com a Reforma (século XVI). Ao censurar Galileo Galilei (1564-1642) em 1616 por defender as idéias de Copérnico (1473-1543) e condená-lo pela Inquisição implantada pelo Santo Ofício de Roma em 22 de junho de 1633, abriu-se ainda mais um abismo entre a Igreja e a cultura incipiente, aumentado com o decorrer dos tempos até a atualidade. Apenas no final de 1992, na presença de membros da Pontifícia Academia de Ciências e do corpo diplomático acreditado junto à Santa Sé, o Papa João Paulo II considerou encerrado e esclarecido o caso Galileo. Orientado pelas conclusões de uma comissão constituída por ele há 13 anos, o Papa admitiu o erro da Igreja, através de seu Santo Oficio, em condenar o cientista. Além disto, João Paulo II procurou obter maior compreensão para o obscurantismo dogmático com que a Igreja foi acusada de opor-se à livre pesquisa da verdade. Na sua opinião a condenação de Galileo foi um erro provocado por uma trágica e recíproca incompreensão, responsável também pelo mito da incompatibilidade entre a ciência e a fé cristã.

A invenção da pólvora e da imprensa, a descoberta do caminho marítimo para as Índias, a descoberta da América por Cristóvão Colombo (1451 - 1506), a introdução da economia monetária e a conquista de Constantinopla pelos turcos em 1453 caracterizaram um novo período na história da humanidade, em um movimento conhecido como Renascença. Este movimento caracterizou mais uma crença no futuro do que uma homenagem ao passado. O ideal de valorização do homem, o qual poderia, com seu próprio esforço, sem a ajuda de Deus ou do sobrenatural, criar e evoluir culturalmente recebeu a denominação de Humanismo. O movimento superou o costume medieval da teologia e filosofia escolástica e, principalmente, da autoridade eclesiástica. Esta mantinha, até então, grande parte da população em estado de ignorância e passividade, facilitando o domínio da mesma pelos senhores e seus interesses econômicos. Uma das principais características da Renascença foi o renascimento do conceito de dignidade de cada indivíduo e o desejo por liberdade. O tema Deus, central na filosofia medieval, passa a ser substituído pelo tema Homem. A certeza matemática tornou-se uma forma ideal para os filósofos, cabendo a René Descartes (1596-1650) o pioneirismo em desconfiar da filosofia destituída de base científica, como apregoada por Copérnico, Kepler e Galileo. Na sua obra Discurso do Método, Descartes busca novos caminhos para a certeza absoluta, levando o homem a refletir criticamente sobre Deus, a relação entre fé e razão, entre teologia, filosofia e ciência. Afirmou que "os estudos devem ter por fim dar ao espírito uma direção que lhe permita proferir juízos sólidos e verdadeiros sobre tudo o que se apresenta". Para Descartes a fé se constituía numa exceção às regras gerais, pois não é ato do intelecto cognoscente, mas da vontade, não havendo verdades contraditórias entre filosofia e revelação cristã.

Blaise Pascal (1623-1662) foi outro que precocemente se envolveu na luta do homo scientificus mathematicus e o homo philosophicus religiosus, escrevendo obras importantes na área da ciência e da matemática. Enquanto Descartes era racionalista, Pascal achava que não bastava a razão e afirmava que ao lado da razão havia também o sentimento. Tanto o sentimento, como a razão, tem seus limites. Pascal escreveu que "o coração tem suas razões que a própria razão desconhece" e que "conhecemos a verdade, não só pela razão, mas também pelo coração". Pascal foi um analista apaixonado pelo drama da existência humana, com sua grandeza e sua miséria, sua alegria e sua tristeza, seu amor e seu ódio. Acreditava que o homem se sentia só e perdido no universo, pois não percebia os vestígios do Criador: "O silêncio eterno desses espaços infinitos me apavora." Pascal achava que o homem devia se caracterizar por pensar e perguntava o que era o homem perante o infinito, ao mesmo tempo que examinou o homem em suas dimensões cotidianas: "Este homem nascido para conhecer o universo, para julgar as coisas e dirigir um Estado, acha-se inteiramente ocupado em correr atrás de uma lebre." Para Pascal a infelicidade do homem se originava da incapacidade de permanecer só num quarto e por não suportar o tédio. Essas contradições mostram que o homem, ao pensar, pode e deve superar o próprio homem e que em nenhuma posição ou opção pode chegar à plenitude, sabedoria e ao repouso. Pascal escreveu: "O homem ultrapassa infinitamente o homem, e ouve de teu senhor a tua condição verdadeira que ignoras. Escuta a Deus." Pascal apostava na fé e acreditava que a mensagem cristã respondia ao enigma da existência humana. Em antítese a Descartes - "Penso, logo existo" -, Pascal criou o "Creio, logo existo". Para ele a razão não podia decidir se existe ou não Deus, pois entre nós e Deus há uma distância infinita. Tinha clareza que somente era possível reconhecer Deus pelo coração: "DEUS é sensível ao coração, não à razão." A decisão pela fé não é fruto da abstração racional, mas ocorre na profundidade do coração humano. Para Pascal o espírito humano é muito mais que pura razão ou lógica e enquanto Descartes separava o domínio da razão e o da fé, Pascal defendia a unidade de se pensar na fé e se crer na razão.

Immanuel Kant (1724-1804) se interessou, desde a infância, pelos temas moral e religioso de um lado e pela ciência-matemática que estudou na universidade segundo os conceitos de Newton. Em sua Crítica da Razão Pura parte de uma teoria do conhecimento, o qual é constituído por juízos: analíticos (um quadrado tem quatro lados) e sintéticos (o calor dilata os corpos). Para Kant existe não apenas a ciência, mas também a consciência moral, não só a razão pura, mas a razão prática. O pensamento kantiano se caracterizou pela palavra transcendental, referindo-se a tudo aquilo que é descoberta do pensamento humano, como a lógica e a análise transcendental. Kant afirmou que é a razão que imprime suas forças puras nos objetos para constituir o conhecimento humano, questionando a perspectiva objetivista com uma obra essencialmente crítica. Em relação a Deus, Kant adotou um caminho entre a afirmação dogmática e a demonstração racional concludente. Para Kant existe não apenas a ciência, mas também a consciência moral, não só a razão pura, mas também a razão prática. Na sua obra Crítica da Razão Pura afirma: "Só há três formas possíveis de provar a existência de Deus pela razão especulativa, através da 1) prova ontológica (de idéia do Ser perfeitíssimo deduz-se analiticamente a existência, 2) prova cosmológica (da contingência do mundo infere a existência do Ser necessário, 3) prova físico-teológica (da ordem e da harmonia existentes no universo infere a existência de Deus como mente ordenadora). Kant examinou e discutiu as três e mostrou que não são concludentes. Como a experiência é o limite do conhecimento humano, para Kant, a razão pura não pode demonstrar a existência de Deus. Por isso Kant negou a existência de Deus, por ser impossível demonstrar racionalmente Sua existência. Mas negando provas da existência de Deus, Kant não afirmou nem provou que Deus não existe. Caso fosse dito a Kant, em sua época, no período crítico depois de 1770, que o homem seria capaz de transformar a matéria em energia, dominando a energia nuclear e criando a bomba atômica, que seria capaz de voar como os pássaros e mesmo até as estrelas ou que descobriria remédios capazes de curar doenças mortais da época, como lepra, tuberculose e pneumonia, Kant negaria sua existência, pois seu conhecimento e sua razão eram limitados à sua época. Mas Kant postulou a razão prática, isto é, o que não sabia pela razão pura e crítica, conhecia o que é, pela razão prática o que deve ser. Kant disse que moralmente é necessário aceitar a existência de Deus, eliminando Deus da ordem do pensamento e da realidade, mas postulando a existência de um Deus justo que fundamenta a relação entre a virtude e a felicidade do homem.

George Friedrich Hegel (1770-1831) foi um dos maiores gênios da filosofia de nossos tempos e suas idéias contribuíram para o desenvolvimento das idéias deDarwin, MarxMarx, Feuerbach e muitos outros pensadores importantes da história da humanidade. Hegel viveu numa época em que os alemães preferiam a evolução ou revolução do espírito. Os intelectuais da época haviam aderido com entusiasmo aos ideais da Revolução Francesa, mas com restrições devido à crueldade dos jacobinos. Enquanto os franceses excluíram a religião da revolução, para os alemães a religião exercia um papel importante. Hegel foi o filósofo da razão absoluta, significando o ápice do idealismo alemão. A essência do pensamento de Hegel é a "dialética". Criou o idealismo absoluto que identifica a realidade com a razão ("Tudo que é real é racional; tudo o que é racional é real"), compreendida por meio do desenvolvimento histórico da consciência, que resultou na criação do método dialético. O pensamento e o ser se identificam, havendo união entre Ser e Pensar. Assim a dialética é uma regra formal de procedimento, na qual forma e conteúdo são inseparáveis. A consciência, que é a dialética, vê as coisas como são. O amor é unidade dialética e constitui uma das experiências fundamentais do sistema filosófico de Hegel. A vida é a unidade original e a propriedade fundamental de toda a realidade. A mediação entre os contrários é o amor, o qual supera a separação sem que o separado deixe de existir. Por isso o amor é essencialmente conciliação, um encontrar-se a si mesmo no outro.De acordo com Hegel, a natureza verdadeira e única da razão e do ser é que são identificados um ao outro e se definem segundo o processo racional que precede pela união incessante de contrários - tese e antítese - numa categoria superior, a síntese. Como professor particular em Frankfurt, Hegel situou o caráter fundamental da realidade na noção da vida. Esta constitui o infinito, a totalidade divina que abrange tudo. O ideal se manifesta na realidade, que se realiza de múltiplas formas através da vida. O pensamento em si é uma forma de vida e pensa a unidade das coisas como um infinito, como vida criadora livre das limitações e da mortalidade dos indivíduos. Esta vida criadora Hegel chamou de Deus, a qual podia ser concebida como espírito. Hegel, durante sua juventude, afirmou que o fim e a essência de toda a religião verdadeira é a moralidade do homem. Hegel desenvolveu o tema da alienação do homem em busca de apoio no além quando se torna incapaz de construir uma vida moral por si próprio. Jesus personificou o ideal da virtude e pregador da religião da razão, um sábio que ensinava uma religião puramente moral. Afirmou que uma pessoa, ao entrar no cristianismo, renuncia ao direito de determinar por si mesmo o que é verdadeiro, bom e justo, assumindo o dever de aceitar o que lhe é imposto pela fé, ainda que em contradição com a razão. Hegel afirmou que a alienação é sinônimo de escravidão e de opressão, e que a concepção religiosa judaico-cristã é uma relação entre senhor e escravo. O Deus transcendente é o senhor dominador e o homem, seu escravo irrestrito. O pensamento de Hegel tem como porta de entrada o fenômeno do amor. No amor, o homem perde-se a si mesmo e encontra-se no outro. Na dialética do amor se realiza a vida, modificando-a e animando-a. Conforme o jovem Hegel, a religião reconcilia a reflexão e o amor, unindo-os no pensamento. A vida religiosa, que é a vida do amor, realiza a exigência de filosofia de reconciliar as oposições: o finito e o infinito. O objetivo racional de Hegel foi sempre a reconciliação dos contrários, como finito e infinito, liberdade e necessidade. Após 1800, o maduro Hegel subordinou a religião à filosofia, transformando o Hegel teólogo no Hegel filósofo. Em sua obra filosófica Fenomenologia do Espírito (1807) Hegel propõe a questão de Deus no começo da filosofia como único fundamento de tudo, como único princípio do ser e do conhecer e ironiza a posição daqueles que querem reduzir a problemática de Deus à problemática do homem. Enfatiza que o caminho que a razão natural que o homem tem a seguir é o da dúvida ou até do desespero, mas que a razão deve se elevar de um estado inculto até um plano filosófico de saber absoluto e espírito consciente de si mesmo. O espírito é o todo a partir do qual Deus e homem, ambos espíritos, se tornam compreensíveis. Hegel examinou os diversos aspectos da consciência religiosa e achou insuficiente a consciência imediata de Deus. Segundo Hegel todos os homens têm consciência de Deus. Mas, como há também a negação de Deus, torna-se problemática a prova da existência de Deus a partir da universalidade da idéia de Deus. Embora a existência de Deus na consciência do homem seja real, ainda não há provas dessa verdade. Disse que é o simples princípio filosófico do próprio conhecimento que nossa consciência sabe de maneira imediata de Deus, que o homem tem certeza de saber de Deus. Mas a filosofia só pode tomar tal proposição como ponto de partida. Escreveu: "A religião é para todos os homens; a religião não é filosofia, a qual não é para todos os homens." Hegel mostrou a insuficiência do sentimento de Deus, pois não é possível encontrar o Ser de Deus no sentimento, com certeza objetiva. Deus está no homem como representação, como imagens, não como realidade. Hegel tentou superar a divisão entre a ciência e a fé, entre o Deus da Bíblia e o absoluto filosófico através da mediação. Absorveu a fé na ciência e Deus no absoluto filosófico. Uniu Deus e o homem, o finito e o infinito. Na filosofia da religião, Hegel tentou recuperar as provas da existência de Deus, tendo como centro o esclarecimento especulativo da trindade. Enquanto a religião apresenta o absoluto como objeto da fé, a filosofia hegeliana tenta pensá-lo. Mas para pensar o finito, o homem possui o conhecimento. Para pensar o infinito, o homem precisa de algo mais. Algo que ainda não possui ou ainda não conhece. Por isso Hegel não conseguiu pensar e ter a verdadeira consciência de Deus.

O ateísmo moderno nasceu com a radicalização do Iluminismo francês e evoluiu com Feuerbach, Marx, Nietzsche e Freud. Esse ateísmo penetrou em todas as camadas sociais e, sob o pretexto da busca da verdade científica, passou a ameaçar a fé e o cristianismo. Ludwig Fuerbach (1804-1872), o pai do ateísmo moderno, elaborou um materialismo para o qual só existe o homem e a natureza e "nada mais". Feuerbach foi o principal representante da esquerda hegeliana. Reagiu contra Hegel e o racionalismo em geral e proclamou o empirismo antropológico. Elaborou uma antropologia humanista. Criou uma nova filosofia com o ser real. A realidade fundamental é a natureza, não a consciência ou o pensamento, que são derivados ou secundários. O ser é o sujeito e o pensamento, o predicado. Feuerbach afirmava que o ateísmo era necessário para que as classes oprimidas pudessem lutar por sua libertação, pois "só o homem pobre tem um Deus rico". O homem projeta a idealização de suas qualidades próprias em um ser transcendente, negando o correlato metafísico da fé, não a projeção. Ao projetar a si mesmo, o homem aliena-se de si mesmo, gerando a divisão em si mesmo. Deus, segundo Feuerbach, é na verdade apenas uma expressão do próprio homem, uma ilusão, um ídolo imaginário. "Se o homem não tivesse desejos, não haveria religião alguma", escreveu. Feuerbach acreditava que o homem devia destruir essa criação ilusória para redescobrir sua dignidade e recuperar sua essência perdida. As críticas de Feuerbach são pertinentes em relação a algumas manifestações históricas e mesmo atuais do cristianismo. Feuerbach, na realidade, colocou o homem no centro da vida real e criticou sua alienação para o irreal, através da religião e de Deus. As questões por ele formuladas são reais e perduram na atualidade, tanto para o homem de fé como para o homem que simultaneamente rejeita Deus e aceita o divino ou o sobrenatural. Feuerbach entendeu bem o papel da religião e da submissão do homem a outros homens, em nome da religião e de Deus. Mas nunca demonstrou ou tentou provar a näo-existência de Deus. Onde Feuerbach interpretou o homem e achou a religião uma ilusão infantil, não se deve interpretar a verdade sobre Deus. Para entender, explicar e afirmar o homem não é preciso negar a Deus.

Karl Marx (1818-1883) nasceu em 5 de maio de 1818 e em 1836 iniciou seus estudos na Universidade de Berlim, na época capital da Prússia, onde havia um ambiente de predomínio das idéias liberais e a abertura política do governo de Frederico Guilherme IV, sob influência da Revolução Francesa. Esse liberalismo alemão passou a atacar o seu aliado mais fraco, a Igreja e a religião, enquanto apoiava a idéia hegeliana de que o Estado Moderno encarnava os ideais da moral de forma mais objetiva, cabendo-lhe, por isso, o domínio sobre a vida social. Um grande número de discípulos de Hegel, como David Straus, Bruno Bauer eMax Stirner, formalizou uma crítica ao próprio sistema hegeliano, separando o método revolucionário do sistema reacionário, tendo sido esse pensamento aglutinado por Feuerbach. O jovem Marx se integrou a esse grupo, que professava o ateísmo, tendo nascido judeu e sido educado na religião cristã protestante. Seu primeiro contato com a questão social foi quando assumiu a redação de um pequeno jornal em Colônia, o qual foi logo fechado pela censura. A seguir casou-se na Igreja luterana com uma mulher (Jenny von Westphalen) que, além de cuidar da casa e dos seus filhos, ainda o ajudava na datilografia e correção de seus manuscritos. Em 1843 Marx transferiu-se para Paris, onde passou a levar uma vida burguesa com auxílios oriundos da Alemanha. Na França assimilou as idéias revolucionárias do socialismo e alarmou-se com a miséria do proletariado industrial, mesmo sem nunca ter sido um deles. Ao iniciar uma longa e profunda amizade com Friedrich Engels, começou a se dedicar à economia política, vindo a se tornar um socialista e comunista, ao reconhecer a imensa possibilidade por parte de um movimento organizado dos trabalhadores. Passou então a ser o maior defensor teórico do proletariado. A inteligência de Marx conseguiu que o ateísmo se tornasse o fundamento e a ideologia para o socialismo até nossos dias. Marx apostou no ateísmo para dar maior força e auto-estima ao homem, transferindo assim seu amor a Deus pelo amor ao ser humano. O novo humanismo de Marx é ateísmo e comunismo: "O ateísmo é o humanismo pela superação da eligião, e o comunismo é o humanismo pela superação da propriedade privada", escreveu Marx. Aprendeu de Hegel e Feuerbach a essência do homem, a significação do fator trabalho para sua autocompreensão e o reconhecimento da alienação. Segundo Marx, a sociedade capitalista gerou a burguesia com o regime capitalista, mas também a sua negação, o proletariado. Marx pretendeu criar, pela revolução comunista, a sociedade perfeita, a sociedade sem classes, sem dominadores e sem dominados. Isso cessaria a alienação, não havendo mais necessidade da idéia de Deus. Para Marx a religião não passava de produção e alienação do homem, querendo detectar as causas que geram o conflito e superá-las, destruindo-as. Para Marx a religião é uma consciência errônea do mundo, agindo como calmante. "É o ópio do povo." A religião aliena e hipnotiza os homens com a falsa superação da miséria e assim destrói sua força de revolta, atuando como força conservadora no campo social e econômico. A religião nasce, conforme Marx, da convivência social, política e econômica conturbada dos homens, sendo que o crente busca na religião uma felicidade ilusória para esquecer sua desgraça presente. Para libertar o proletariado e a humanidade da miséria, é preciso destruir o mundo que gera a religião. O marxismo analisa e critica a miséria da humanidade e da necessidade de libertação e busca da felicidade e igualdade entre os homens. Marx proclama o humanismo e uma sociedade onde as massas não sejam oprimidas e exploradas por poderosos. Luta contra a sociedade capitalista que tem por Deus o capital, defendendo o término da exploração do homem pelo homem. O marxismo passou a exercer imensa força sedutora na história da humanidade, favorecida pelas inúmeras crises sociais, políticas, econômicas e ideológicas das sociedades humanas. A sedução mítica de um messianismo redentor e libertador para a transformação da sociedade e do mundo, onde a religião não deve ser um aspecto da ideologia burguesa para a relação ideal das forças de produção de uma sociedade, defendidos por Marx, é uma verdade histórica. Marx teve pena e procurou entender o homem e suas fraquezas de forma onipotente, querendo o bem e a felicidade de todos, através de mudanças do homem e da sociedade injusta e cruel. Agiu de forma inconsciente como um ser superior que significa a perfeição, a moral e o amor. Admitiu, assim, de modo inconsciente, a existência de um ser infinitamente superior, talvez Deus. Justo e onipotente. Mas o homem sempre perverteu tanto os ideais marxistas como os ideais morais e religiosos. Isso se enquadra na problemática da existência humana, não significando que Deus não existe.

Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844-1900) foi outro grande pensador que proclamou o niilismo e o ateísmo. Proclamou: "Deus está morto", e afirmava que o cristianismo só gerou conformismo e mediocridade, numa época de ufanismo europeu em que o progresso da ciência e da tecnologia começaram a fascinar o pensamento humano. Nietzsche não se orientou por conceitos, sistemas ou visão do mundo, mas sim pela paixão de buscar as raízes da vida através da crítica radical de tudo que existia. Evitou pensar em termos de sistemas para pensar em termos de problemas e colocou a filosofia a serviço da vida concreta do homem. Para Nietzsche o homem é o animal mais forte, mais astuto e mais interessante da natureza e através da cultura devia seguir sua consciência. "Sê tu mesmo quem és." Considerava a vida um dom supremo e a religião como destruidora da vida, uma forma de negação teórica e prática da vida. Afirmou que o cristianismo ensina que o reino de Deus está nos corações dos homens, mas traiu essa intuição fundamental quando transformou o reino em outro mundo, um mundo além. Para Nietzsche a religião é a destruição de tudo quanto há de nobre, de alegre na vida humana. Criou a liberdade negando Deus. Como conseqüência da morte de Deus vem o niilismo. O nada passa a ocupar o lugar de Deus. A superação definitiva do niilismo será a obra do homem vindouro. Será o anticristo, o senhor sobre Deus e o nada. A humanidade prosseguiria através de espécimes superiores que darão sentido para a vida e para a história. Nietzsche não atribuiu valor infinito a cada indivíduo, mas apenas a alguns. Dentre os homens só alguns diferem dos animais: são os super-homens. Distinguem-se pela vontade de potência, ou seja, a vontade superior de superar a si mesmos. Para nascer o novo é necessário que o velho morra, com a destruição dos valores tradicionais. O niilismo é uma passagem obrigatória para a criação de novos valores. Esses novos valores só podem ser a vida, a natureza. Nietzsche, como Marx e Freud, se caracterizou por liderar uma luta contra a ilusão religiosa, contra o cristianismo e os valores morais e uma ordem de verdades eternas. Defendia uma filosofia de vida e atacou o cristianismo com um fanatismo total. Considerou como decrépitos e enfermos os que desprezam o corpo e a terra, os que inventaram o mundo celeste e as gotas de sangue do redentor. O ateísmo de Nietzsche se apresenta como um novo humanismo, com nova ética que pretende libertar definitivamente o homem de sua alienação religiosa. Transfere a fé em Deus para o outro, o que é a essência do próprio homem. Com isso o ateísmo moderno criou um desafio para o pensamento humano para conciliar a providência divina com a liberdade humana e as normas morais da existência. Caso Deus esteja verdadeiramente morto, como afirmou Nietzsche, cabe ao homem evoluir e ser algo superior. Algo pelo menos superior ao nada.

Sigmund Freud (1856-1939) foi outro pensador gigante na história da humanidade, criando o ateísmo psicanalítico. Freud foi professor de neuropatologia na Universidade de Viena e foi profundamente influenciado pela teoria evolucionista de Charles Darwine por seu mestre Brucke, defensor do materialismo mecanicista. Freud considerou o homem um ser instintivo extremamente complexo, que está condicionado pelos impulsos e instintos, inclusive em sua vida consciente. A autêntica tarefa da vida humana consiste no domínio cotidiano dos conflitos presentes na mente humana. A saúde psíquica exige a consideração das dificuldades e dureza da vida e da realidade e o controle de inúmeros impulsos e instintos, não sendo possível ao homem satisfazer todos os seus desejos sem limitações e sem renúncias. Quando não consegue a superação dos conflitos ou somente o faz de maneira superficial, o homem desenvolve sintomas neuróticos. Uma característica fundamental da psicanálise freudiana foi a tentativa de explicar a vida do homem, tanto individual e privada, quanto pública e social, recorrendo a uma grande força que é o impulso sexual ou a libido, uma forma mais abrangente de luta pela preservação individual e da espécie. Do contraste entre os impulsos do subconsciente e as estruturas sociais e morais constituídas por proibições e censuras acumuladas durante a infância, surgem fenômenos como os sonhos (expressões deformadas e simbólicas dos desejos reprimidos), os atos falhos (erros de distração, brincadeiras, descuidos) ou a sublimação (transferência do impulso sexual para outros objetos, originando a arte, a metafísica, a religião). Mais tarde surgiu o conceito dos complexos, introduzido por Carl Jung, formado por mecanismos associativos com certa constância, aos quais devem ser atribuídas maiores perturbações mentais, como o complexo de Édipo. Freud criou uma teoria que divide a estrutura psicológica do homem em três partes: o ego (organização e consciência em contato com a realidade e que procura submetê-la a seus fins e desejos), o superego (a consciência moral constituída pelo conjunto de proibições impostas ao homem desde os primeiros anos de vida e que o acompanham de forma inconsciente) e o id (instintos e impulsos múltiplos da libido, orientados sempre para o prazer). A religião, segundo Freud, origina-se do complexo paterno, significando grande alívio para os conflitos da infância do indivíduo. Para Freud, a maturidade da humanidade exige a superação da fase religiosa, dando primazia à inteligência sobre a vida dos instintos. Todo psíquico primeiro é inconsciente. Os processos inconscientes são os processos primários e os conscientes, secundários. Em geral, a consciência através do mecanismo de rejeição evita os impulsos inconscientes, os quais são banidos mas não eliminados do funcionamento psíquico do indivíduo. Por isso, buscará substitutivos na forma de sonhos ou mesmo de sintomas neuróticos ou mesmo psicossomáticos. No tratamento psicanalítico é feita a interpretação das repressões, por meio do reconhecimento dos sintomas neuróticos e suas possíveis causas. Estas são trazidas à consciência em ação conjunta entre o paciente e o terapeuta. De forma aberta e sem censura, o paciente conta seus sonhos, temores, fixações e preocupações, aprendendo, com a ajuda do terapeuta, a conhecer sua superficialidade e sua profundidade psicológica. A transferência do paciente para o terapeuta é importante no procedimento terapêutico e, tendo o médico como uma espécie de duplicata de uma pessoa de experiência de outrora, o paciente revive suas relações sentimentais reprimidas, positivas ou negativas para com pessoas importantes do passado (pais, irmãos, cônjuge). Assim é possível descobrir estruturas atuantes do subconsciente, interpretá-las e formular as motivações inconscientes.

Freud descobriu que a neurose é a fuga do adulto ao mundo infantil e que o pai exerce um papel importante e decisivo na fase dos quatro aos seis anos de idade, representando o complexo de Édipo. Nessa relação entre pai, mãe e filho formam-se desejos agressivos e necessidade, amor e ódio, afeição e hostilidade, que são exilados para o subconsciente. Concluiu que o neurótico não quer aceitar a dura realidade da vida e do mundo real e mesmo duro e cruel. Freud partiu da teoria evolucionista de Charles Darwin de que a partir do homem primitivo e sua submissão ao mais poderoso, surgiu a destruição do dominador e um pacto entre todos, criando um totem da tribo, para mantê-los unidos e ao qual passariam a respeitar no começo da organização social. De um sentimento de culpa surgiu a religião, cujo núcleo é o complexo de Édipo. O pai representa um tirano dominador que impõe leis e ao qual seus filhos matam por ódio e desejo de libertação. Segundo Freud a religião é fruto de um desamparo infantil do homem, sendo sua origem a partir do inconsciente, isto é, do irracional. Para Freud, os substitutivos da religião são a cultura e o conhecimento. Certos impulsos são sublimados, quando não são satisfeitos. Muitos impulsos egoístas podem ser tornar úteis para a sociedade e satisfazer o indivíduo, evitando sofrimento e angústia, surgindo a gratificação. Grandes campos culturais da humanidade, como arte, religião e ciência são frutos da sublimação de impulsos instintivos importantes e complexos. A religião aparece como uma resposta à dureza da vida, na qual o homem foge para um mundo ilusório e neurótico. Freud afirmou que o fundamento último da religião é o desamparo infantil do homem, consistindo numa fuga da realidade. Os desejos da criança desamparada que busca proteção face aos perigos da vida, a busca a Deus e a imortalidade da alma são desejos que derivam, em última analise, do complexo de Édipo não curado. Libertando a humanidade do complexo de Édipo o homem estaria livre da religião e desapareceria essa neurose. Freud rejeitou a religião, considerando-a um mundo ilusório e neurótico, defendendo a ciência. Embora Freud admitisse que algum dia talvez o homem pudesse explicar os problemas psíquicos que estudava através da psicanálise, como fenômenos biológicos, ele pouco imaginava do fabuloso avanço que a própria ciência que tanto admirava teria a partir da II Grande Guerra. Freud, ao morrer em 23 de setembro de 1939, sequer conheceu o triunfo da penicilina, um antibiótico que viria a comprovar sua eficácia e revolucionar a medicina apenas no ano seguinte à sua morte. Freud jamais imaginava que em poucos anos o homem desintegraria o átomo e criaria, com a energia nuclear, a bomba atômica e depois a bomba de hidrogênio, raios laser, microcomputadores e outros "milagres" da ciência. No campo da medicina, descobertas recentes identificaram os peptídios endógenos, as encefalinas e as endorfinas, que atuam em complexas funções cerebrais, desde a dor até a memória e os sonhos. Mais recentemente foram identificados peptídios neurotransmissores que são responsáveis pelo complexo de Édipo (edipinas no homem e electrinas na mulher), que atuam em receptores específicos, os receptores tipo C (de Complexo de Édipo) no nível do hipotálamo e sistema límbico, num núcleo neuronal denominado núcleo de Sigmund (em homenagem a Sigmund Freud). Avanços ainda secretos da ciência médica já identificaram bloqueadores desses receptores, sendo possível, assim, atuar farmacologicamente, inibindo o complexo de Édipo, com fármacos denominados ABCDE (Agentes Bloqueadores do Complexo De Édipo). Libertando assim a humanidade do complexo de Édipo, desaparecerá a neurose e o homem estará livre da religião, conforme o conceito ateísta psicanalítico. Desse modo a ciência será capaz de curar essa doença, segundo Freud, "deixando o céu aos anjos e aos pardais". Estará livre então para buscar, por meio do conhecimento e espírito científico, a perfeição, isto é, ser ele próprio o Deus que inconscientemente criou. Talvez a etapa a seguir será a descoberta dos neurotransmissores responsáveis pela fé, pela moral e pelo amor entre os seres humanos. Da mesma forma, a descoberta de fármacos que bloqueiem esses sentimentos psíquicos abrirá portas e conhecimentos fantásticos ao ser humano. Talvez por isso o homem tente desesperadamente a busca da felicidade de forma temporária, como com o uso de álcool e outras drogas, como cocaína, heroína e similares. Livre de emoções humanas e problemas psíquicos, o homem se igualará ao seu ideal inconsciente, Deus. Com um simples medicamento que antagonize as edipinas ou as fedipinas (neurotransmissores da fé) ou mesmo as paixoninas (neurotransmisssores da paixão e do amor), o homem descobrirá ainda a existência das humildinas (neurotransmissores da humildade), sendo capaz de bloqueá-las, para chegar à onipotência e mesmo à imortalidade. Nesse dia e nessa hora, descobrirá então o que é ser Deus, e admitirá, então, que um ser assim, superior, perfeito, justo e completo pode existir. E passará então a acreditar em Deus.

Jean Paul Sartre (1905-1980) foi um filósofo existencialista francês para quem Deus não tinha existência real. Em sua obra O ser e o nada Sartre afirmou que "toda realidade humana é uma paixão... o homem se perde enquanto homem para fazer nascer Deus... o homem é uma paixão inútil". Sartre afirmava representar um existencialismo ateu coerente, no qual a existência precedia a essência, a tese comum dos existencialistas. Afirmava que se Deus não existia, havia pelo menos um ser no qual a existência precedia a essência, um ser que existe antes de poder ser definido por qualquer conceito: o homem. "O homem nada mais é do que aquilo que faz de si mesmo: é esse o primeiro princípio do existencialismo. É também a isso que chamamos de subjetividade... o homem será apenas o que ele projetou ser... o homem é totalmente responsável por sua existência... o homem só existe à medida que se realiza ; não é nada além do conjunto de seus atos, nada mais que sua vida... ainda que Deus existisse, nada mudaria; eis nosso ponto de vista." Sartre desenvolveu uma ateísmo postulatório, negando Deus para afirmar o homem, da mesma maneira que Nietzsche, sem provar nada racionalmente. Desenvolveu um niilismo e um sombrio pessimismo de onde deriva o ser do nada, explicando o homem e o mundo a partir do nada. Negando Deus dogmaticamente, apresentando o homem como uma "paixão inútil", Sartre foi mais um grande pensador que tentou negar a existência de Deus, mas cujas idéias não permitiram uma conclusão ou prova definitiva da existência ou não de Deus. Porque Sartre, como todos os filósofos e cientistas, buscou por meio do conhecimento negar ou questionar a falta de provas da existência de Deus. Tanto o conhecimento humano quanto a sua sabedoria ainda são limitados para ser possível, na atualidade, a afirmação definitiva quanto à existência ou não de Deus.
< h3>3. Deus Existe?

Dificilmente num futuro próximo a filosofia e a ciência atéia conseguirão negar convincentemente - com provas científicas - a existência de Deus, nem a religião, a fé e a crença conseguirão provar a existência de Deus. Para a fé cristã o ateísmo contemporâneo constitui-se num purgatório para a própria fé, enquanto a moderna ciência atéia busca uma resposta melhor para o sentido do homem e da humanidade. A fé alcançou seu limite na crença na existência de Deus e sua devoção ao Criador, enquanto a ciência ainda não chegou ao seus limites - que podem ainda ser inimagináveis. Talvez daqui a alguns milênios o homem possa dominar a transmutação da matéria para a energia, viajando por buracos negros, novos universos e galáxias, dominando o espaço e o tempo, tornando-se onipresente e imortal com o simples domínio da mente humana. Talvez assim poderoso, poderá encontrar, nos confins do universo ou no seu interior, a verdade sobre Deus. Todo homem sempre lembra de Deus, nem que seja num derradeiro momento, numa hora difícil ou como um último e desesperado apelo, quando poderia fazê-lo nas horas mais fáceis e como primeira - e não última - opção. Até lá, se é difícil crer em Deus, será mais difícil para a humanidade viver sem Ele. O último passo da razão e da genialidade humana é o de reconhecer que existem infinitas coisas que a superam. Num futuro longínquo, quando o homem for perfeito e a sua ciência dominar todos os segredos do universo, certamente o segredo da religião, da filosofia e da ciência será desvendado, e ele revelará que alguns homens foram criados por Deus, amando ao seu próximo como a si mesmos, outros evoluíram dos macacos, tentando de todas as formas ser iguais aos criados por Deus, enquanto outros descendem das bananas. A história da espécie humana, de seus líderes, suas injustiças, sua crueldade, desigualdade, miséria, doenças e desamor entre os seres humanos evidencia que os descendentes das bananas sempre foram a maioria.
< h3>4. Cultos e Exploração de Incrédulos e Crentes

Cerca de 99,99% dos seres humanos vivem diária e constantemente dramas existenciais de anonimato, crises emocionais, familiares, profissionais, financeiras, sociais, políticas, culturais, filosóficas e religiosas. O 0,01% restante vive a mesma crise, com exceção de não existir no anonimato, pois é formado por pessoas que ocupam posições de destaque na sociedade, como lideranças políticas, econômicas, religiosas, culturais e artísticas, entre outras. Uma forma crescente de liderança na psicodinâmica de grupos humanos é o processo de influência religiosa que ocorre entre indivíduos, levando à formação de estruturas nacionais e mesmo internacionais que exercem intensa e profunda dominação e condicionamento dos integrantes desses cultos. A vivência social é baseada no aprendizado de convívio no microcosmo familiar, que evolui para o macrocosmo social, local, nacional e internacional. Nesse processo de vivência, o comportamento humano se baseia no aprendizado condicionado, consciente e inconsciente. Desde a fase infantil de aprendizado por observação e imitação, passando por reflexos condicionados e condicionamento operante que atuam no desenvolvimento da personalidade, culminando com a adaptação a regras sociais estabelecidas, o ser humano vive e interage de forma constante com seu hábitat natural. No passado o poder de uma pessoa influir em outras era considerado sobrenatural, razão pela qual muitos médicos passaram a serem considerados deuses ou pais supremos, como Esculápio, deus grego da medicina, Imhotep, deus da medicina egípcia, Sheng Nung, pai da medicina chinesa ou Hipócrates, pai da medicina. Com a evolução e complexidade das sociedades, esse domínio passou a ser econômico e político, além de religioso.

Na atualidade, por frustração devido à inépcia social das esferas dominantes - a política e a economia -, uma significativa parcela da população está recebendo influência, gratificação e domínio de líderes religiosos, cuja principal fonte inspiradora é Jesus Cristo, que originou o cristianismo. Jesus ensinou que visitar doentes é uma obra de caridade misericordiosa: “... estive nu e me vestistes, enfermo e me visitastes, estava preso e viestes ver-me...“ (Mateus 25, 36) e despertou no ser humano a motivação para imitá-lo, quer cuidando da saúde da alma humana, através dos pastores, padres e demais religiosos, ou da saúde física e mental do ser humano, através da classe médica e demais profissionais da saúde, como dentistas, enfermeiras, farmacêuticos, nutricionistas, assistentes sociais, fisioterapeutas e muitos outros. Mas em nome de Jesus, um universo imenso de pessoas forma cultos com programas de reforma, de doutrinação e de ressocialização, de onde podem mesmo emergir imensos poderes econômicos e políticos que passam a atuar em toda a estrutura social. O estabelecimento de um dízimo, a décima parte das rendas consagradas ao Senhor como fonte de arrecadação de cultos e igrejas encontra um amplo embasamento na Bíblia, na qual não apenas os egípcios (Gênesis 47, 24), mas particularmente a lei mosaica dos israelitas assim estabelecia (Gênesis 14,20; Levíticos 27, 30-32; Números 10, 37, 38 e 18, 24-27; Deuterônimo 12, 5-6-11). O pagamento dos dízimos continuou na história do povo judeu (Macabeus 3, 49) e no tempo de Cristo o pagamento dos dízimos sofreu alguma alteração (Lucas 11, 42 e 18, 12). O dízimo era enviado aos sacerdotes e por eles coletado. Posteriormente os sacerdotes passaram a ser prejudicados pela cupidez e ganância dos sumo-sacerdotes, que se apoderavam à força dos dízimos. Esse exemplo foi transferido para a posteridade e no presente a totalidade dos cultos e igrejas ou cobra dízimos ou solicita doações em substituição ao dízimo. Isso serve para a arrecadação de verdadeiras fortunas, que raramente são reinvestidas em benefício da comunidade participante dos cultos, em suas necessidades básicas como nutrição, moradia e assistência médica. Fortunas são usadas de forma obscura para a compra de meios de comunicação, como jornais, televisões, rádios, bem como para financiar campanhas e carreiras de políticos, numa simbiose em que existe sempre um único parasitado - o incrédulo e crente.

Inequivocamente a Igreja Católica e os Evangélicos buscam, por meio da disseminação do evangelho, enriquecer espiritualmente o ser humano, mas isso deveria ser feito gratuitamente, de forma altruísta, principalmente porque o gasto em livros é muito pequeno - apenas um, a Bíblia. Um médico ou qualquer outro profissional precisa gastar fortunas com livros e atualizá-los periodicamente. Muitos cultos e adeptos do cristianismo contrariam os próprios ensinamentos do Novo Testamento referentes aos bens materiais, que afirma: "Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corroem, e onde ladrões não escavam nem roubam; porque onde está teu tesouro, aí estará também teu coração” (Mateus 6, 19-21), bem como "Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um, e amar o outro; ou se devotará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas" (Mateus 6, 24). Ou muitos bispos e líderes religiosos do cristianismo não leram e entenderam todo o significado da Bíblia,, ou possuem péssima memória ou atuam de forma cínica, enganosa, predadora e fraudulenta em relação aos seus fiéis adeptos e seguidores. Para muitos cultos, quando o dinheiro fala, a verdade se cala e a fé domina. Enquanto para capitalistas o dinheiro é como a mulher - se não lhe for dada atenção ela irá fazer a felicidade de outro - para muitos cultos o dinheiro é a verdadeira religião. A fé, a capacidade de trabalho que gera dinheiro e o poder está nas mãos das massas. O que as oprime e as torna vulneráveis é a sua ignorância e a sua insensatez egoísta e cega. A maioria dos cultos rejeita a medicina e atua de forma a praticar curas milagrosas e expulsões do diabo, o qual seria o agente causador da doença, numa regressão aos primórdios do pensamento humano - o pensamento mágico. Essa transgressão e perversão de funções de cultos e seitas religiosas pode se constituir numa séria ameaça à saúde da população e cabe à classe médica adotar uma atitude para impedir tais abusos, mas de forma prudente e racional. Cabe ao médico respeitar a fé mas esclarecer os seus pacientes sobre os papéis de cada um, pois ciência e religião são fundamentais na vida do homem.

A moderna ciência passou a dedicar grande atenção a temas religiosos no final do último milênio. Enquanto físicos buscam descobrir a origem do Universo, astrônomos procuram identificar a extensão deste Universo e médicos procuram entender o papel da fé em Deus na cura de doenças, a maioria dos cientistas afirma que a fé é capaz de curar e de fazer milagres, mesmo que de forma ainda incompreensível para os conhecimentos científicos da atualidade. A crença em alguma religião pode ser o melhor e mais poderoso remédio contra todo tipo de doenças, desde a simples ansiedade ou insônia até graves problemas cardíacos ou o câncer. Modernos estudos científicos têm demonstrado que pessoas que vivem em contato com comunidades religiosas levam uma vida mais saudável que os demais e que acreditar em Deus faz bem à saúde. Pessoas com princípios religiosos costumam beber e fumar menos que as demais e a participação em reuniões coletivas ajuda a descarregar as tensões. As pessoas religiosas sofrem menos dores crônicas, insônia, ansiedade, depressão, infertilidade ou problemas cardíacos.

Um grande número de doenças que afetam diferentes órgãos e sistemas do corpo humano possui tanto a sua causa como o seu tratamento inteiramente desconhecidos pela ciência médica, embora exista um grande e variado número de medicamentos que podem beneficiar e controlar de forma temporária esses problemas. Por isso é importante sempre que cada doença receba avaliação e tratamento médicos como primeira opção. Mas nos casos em que a ciência médica se revelar impotente, quer para curar ou para aliviar, a religião pode se tornar um grande e eficaz recurso para a cura, para o alívio e para o conforto. Milagres que levaram e podem levar à cura já foram observados em todas as doenças que afligem o ser humano, pois é usado um dos mais poderosos remédios: a fé em Deus. Enquanto a ciência traz o conhecimento, a religião traz a sabedoria. Quem perverte tudo é o homem esperto, ganancioso, vaidoso, cético e mal-intencionado, qualquer que seja sua profissão.

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