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sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Café Literário "Um homem é o que ele lê, come e bebe na vida. Logo deve escolher a melhor leitura, a melhor comida e a melhor bebida, o café..." Joha




Este CAFÉ LITERÁRIO visa transmitir informações sobre Livrarias, Livros, Literatura, Poesia, etc., com trechos ilustrativos da história da leitura, dos livros e de autores junto com recomendações para que você faça como faziam pessoas inteligentes na Europa a partir do Século XVII - conversar, debater, aprender, ler e escrever tomando café. Participe enviando sugestões de livros, textos literários e poéticos de intelectuais que contribuíram para a história, graças a sua inteligência, criatividade... e certamente um bom cafezinho.
Apresentação

A era de Shakespeare (1564-1616), mais particularmente o início do Século XVII assistiu o final de uma época de inocência em relação a bebidas consumidas pela humanidade. Até então a experiência de longa data demonstrava que o vinho e a cerveja eram muito mais seguros que a água poluída da época. O vinho constitui por séculos o componente essencial da dieta alimentar, havendo como única alternativa a cerveja. Em 1613, depois de escrever sua última peça, A Tempestade, Shakespeare se recolheu a sua casa nova em Battersea, nos arredores de Londres, enquanto que neste mesmo ano em Islington, uma aldeia no alto de uma colina no lado oposto de Londres, foi concluído um projeto revolucionário. O Novo Rio, um aqueduto de sessenta quilômetros de extensão, concebido por um gaulês de nome Hugh Myddleton, levou aos londrinos água potável em abundância pela primeira vez. Até então para um inglês a água por si só não era saudável. Mas a chegada da água potável ajudou a destruir o motivo fundamental para se tomar vinho - simplesmente matar a sede sem correr riscos. Nesta época o vinho também se deparou com uma série de rivais, um após outro roubando a cena como a bebida social do momento.

Os primeiros rivais foram bebidas destiladas, as aguardentes, introduzidas primeiro na Alemanha, conhecida como aqua vitae. Um médico de Nuremberg escreveu na época: "Considerando que atualmente todos aderiram ao hábito de tomar aqua vitae, cumpre lembrar a quantidade que deve permitir-se quem deseja comportar-se como um cavalheiro". A Alsácia estava preocupada em queimar seu excedente de vinho, criando o brandy (a palavra brandy provém do alemão Gebrandt Wein, vinho queimado). O tabaco também se difundiu na época de Shakespeare, sendo fumado, mascado ou cheirado na forma de rapé. A cerveja, graças aos holandeses, converteu-se num grande rival do vinho, pelo sabor suave.

O chocolate chegara à Espanha no século anterior, procedente do México, onde Cortés descobrira que os astecas valorizavam tanto o cacau que o utilizavam como moeda. Uma bebida estimulante era preparada nos banquetes de Montezuma com chocolate em pó, baunilha, milho, ervas e pimenta, sendo fermentada, para reunir os efeitos da cafeína e do álcool. Os espanhóis guardavam o segredo do xocoatl, ao qual acrescentaram açúcar, inventando uma receita que seria conhecida mais tarde como chocolate. Na França o chocolate tornou-se moda em meados do Século XVII, quando Louis XIV esposou a princesa espanhola Maria Teresa.

Na mesma época o café chegou na Europa através de Veneza na Itália, vindo do Oriente, onde era a bebida oficial dos Islâmicos. No Oriente Médio as Kaveh Kanes que antes serviam apenas para reuniões religiosas com o tempo se tornaram locais para conversas, debates, política e negócios, além de outras atividades proibidas pelos mais radicais, como música, dança e jogos. Com a conquista de Constantinopla pelos turcos otomanos, que se converteram ao Islamismo, as cafeterias turcas passaram a ser chamadas de "escolas", pois ali se encontravam todas as pessoas cultas para dialogarem e ajudarem no aprendizado dos ouvintes livremente. Ao chegar na Europa através de Veneza, o café foi rejeitado pelos líderes católicos europeus pois se tratava de uma bebida dos infiéis muçulmanos e sua cor negra seria um sinal do diabo. Mas o Papa Clemente VIII (Ippolito Aldobrandini), em seu papado de 1592 a 1605, provou a bebida, batizou-a e abençoou-a, tornando uma bebida cristã. Disse que o café deveria ser sempre puro como um anjo e doce como o amor. Os seus seguidores também a queriam quente como o inferno e preta como o carvão. A mania de tomar café tomou conta de Veneza e de toda a Itália. Aristocratas, cortesãs, artistas, músicos, poetas, filósofos e mesmo libertinos, como Casanova, se reuniam nos finais de tarde nas cafeterias para tratar de vários assuntos, quase que perpetuando o carnaval veneziano.

Da Itália o café foi para Londres que na época uma imensa taberna onde a embriaguez era uma regra geral. Cervejas escuras, hidromel com álcool, licores, menta, conhaque, vinhos e whisky ajudavam os britânicos a se autodestruírem. A chegada do café na Inglaterra foi providencial, pois ajudou a diminuir o consumo de bebidas alcoólicas e a afastar as pessoas das tabernas, onde deixavam seu dinheiro e sua saúde. Por ser o café bom e barato, os estabelecimento que o serviam foram inicialmente chamados de "penny universities", porque bastava um penny para tomar uma xícara de café e ficar ali sabendo e aprendendo quase tudo que se quisesse, como posições políticas, gostos literários e mesmo atividades comerciais. Mas um grupo de mulheres inglesas publicou, em 1674, um panfleto entitulado "Petição Feminina contra o Café, apresentando à consideração pública as grandes inconveniências ao seu sexo do uso excessivo deste licor sicativo e debilitante". As mulheres argumentavam que os homens consumiam muito café, e como resultado eram "infecundos e inúteis como os habitantes de onde esta planta inútil nasce e é cultivada". As mulheres sentiam-se realmente infelizes, pois o panfleto continha ainda: "...O palato de nossos cidadãos tornou-se tão fanático como as suas vontades; como pode ser possível que eles possam renunciar do antigo e bom costume de beber cerveja para perseguir este líquido pervertido, jogar fora o tempo disponível, mudar suas lojas, gastar seu dinheiro, tudo para beber um pouco desta água suja, nauseante, desagradável, amarga e escura...". Os homens costumavam dedicar muitas horas nas inúmeras cafeterias elaborando o texto da "Resposta dos Homens a Petição das Mulheres contra o café", que dizia: "... Porque deve a inocente bebida oriunda do café ser objeto de vosso mau humor? Este licor inócuo e curativo, que a providência divina mandou para nós ... não é esta bebida que diminui nossa atuação no esporte de Vênus, e nós esperamos que vocês aceitem esta exceção...". E o problema foi resolvido e o preconceito logo desapareceu quando as mulheres passaram a fazer café em casa a partir da manhã, para estimular os maridos a ficarem em casa ou voltarem para casa para tomar um bom café antes de deitar. Assim ficavam excitados e felizes. E suas esposas também.

Do outro lado do canal, na França, nem mesmo o vinho de boa qualidade e barato fez com que o consumo de café fosse recebido com menor entusiasmo. O consumo de café foi crescendo lentamente e a popularidade na nova bebida atuou decisivamente no surgimento do CanCan. Os proprietários dos cabarés franceses, temendo a diminuição do número de clientes que procuravam cada vez mais as cafeterias, conseguiram convencer as bailarinas a dançarem sem as anáguas, para atraírem mais a clientela masculina. Apesar de todos os recursos empregados, as cafeterias sobreviveram e o consumo de café aumentou. Tão logo a bebida chegou às feiras de Paris, foi-lhe adicionado o açúcar. Em 5 de dezembro de 1699, o embaixador turco Soliman Aga representando o Sultão Mahomet IV do Império Otomano, ofereceu no Castelo Saint Germaine a bebida ao rei francês, Luis XIV, o qual desdenhou a oferta, dizendo preferir a champagne e o chocolate. Este insulto ao embaixador turco fez com que Soliman se instalasse numa mansão em Paris, onde o luxo e o esplendor impressionavam a toda corte francesa. Lá, convidados do embaixador, bebiam café com açúcar, num local onde parecia que estavam vivendo um sonho das Mil e uma noites, rivalizando com o grande Palácio de Versalhes. Por irônica sugestão do rei Luis XIV, Moliére, apesar de se tornar admirador e grande consumidor de café, escreveu a peça EL BURGUÉS GENTILHOMBRE, cujo personagem "Gran Mamamouchi" não era outro senão o próprio Soliman Aga. A seguir o café com açúcar conquistou assim a nobreza francesa e depois a população em geral. Lojas para servir café foram abertas nas grandes cidades francesas e depois em toda a Europa ao longo século XVII e algumas tornaram-se famosas graças à clientela que reuniam, como Racine, La Fontaine, Fontenelle, Voltaire, Lamotte, Piron, Rousseau, Buffon, Beaumarchais, Diderot, DÀlemberg e centenas de outros. Em Paris os Cafés começaram a surgir em 1672, vindo o café Procope a se tornar no mais famoso, fundado pelo siciliano Procópio dei Coltelli. Por se situar próximo a Comedie Française, logo atraiu atores, bem como alguns dos maiores filósofos do século das Luzes, românticos e poetas simbolistas. Foi no Procope que nasceu a idéia da produção da primeira Enciclopédia. Lucie Simplice Camille Benoist Desmoulins (1760-1794) foi um jornalista francês e político, amigo íntimo de Danton, que exerceu um importante papel na Revolução Francesa. No dia 12 de julho de 1789 Camille, após tomar diversas xícaras de café, subiu encima de uma mesa no Palais Royal em Paris e discursou de forma entusiasmada, inflamando a multidão "As armas". Segurando duas pistolas gritou que não se entregaria vivo a polícia que estava vigiando seus movimentos. Seu chamado às armas ecoou por toda a cidade dando início a Revolução Francesa, sendo que dois dias após, em 14 de julho, ocorria a queda da Bastilha.

A juventude da época começou também a trocar como ponto de encontro as tabernas pelas butiques de café, mais elegantes e bem-vistas, as quais se tornaram em Cafés Literários ou LES CAFÉS. Enquanto nos cafés ingleses fechavam-se negócios, nos franceses exaltavam-se o espírito, as artes, a política e a literatura. Esta moda esta voltando nos tempos atuais e grandes livrarias em todo o mundo estão se tornando em grandes CAFÉS LITERÁRIOS. Por isto queremos que você participe deste nosso CAFÉ LITERÁRIO PARA INTERNAUTAS.

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